Epidemia de negligência
Os dados oficiais sobre a epidemia de esquistossomose em Alagoas são uma vergonha para o estado e seus governantes, de hoje e de ontem. Trazida pelos escravos, a doença é associada à pobreza, mas sua proliferação deve-se à negligência do poder público em todas as suas esferas.
O médico João Batista Neto, especialista no tratamento da esquistossomose, há anos vem advertindo as autoridades sobre os estragos da doença na saúde da população e na economia do estado. Mas até agora seu grito de alerta tem caído no vazio da indiferença e da omissão dos gestores públicos.
Com 70 municípios infectados, Alagoas é o segundo estado do país com maior incidência da doença. “Temos mais de dois milhões de pessoas expostas ao parasita”, lembra o médico, indignado com tamanha negligência.
A solução é conhecida e começa por sanear os vales do Paraíba e Mundaú, dois dos rios mais contaminados do mundo por esquistossomose. O problema é que saneamento básico é obra debaixo da terra, que não tem visibilidade pública nem dá votos aos políticos.
Vale lembrar que no governo de Fernando Henrique foram liberados milhões de reais para o saneamento de todas as cidades ribeirinhas como forma de salvar as lagoas Mundaú e Manguaba e a vida de milhares de alagoanos. Todo o dinheiro foi gasto, mas o saneamento ninguém sabe, ninguém viu.
E mais grave: até hoje nenhum prefeito foi preso por crime contra a saúde pública.