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Transporte público: vai ou racha?

03/01/2020 - 10:47

ACESSIBILIDADE

Assessoria
Transporte público em Maceió
Transporte público em Maceió

Levar a população a um nível razoável de satisfação com o transporte coletivo de Maceió requer muito mais do que baixar o preço da tarifa, mas já sinaliza bom começo. O serviço é um dos mais deficientes do país, e nos últimos 15 anos esteve sem comando, favorecendo somente os próprios empresários. Ninguém sabe quantas propinas rolaram para o sistema chegar ao caos, nem quantas campanhas políticas foram financiadas pelo setor de transporte... até que se abra a caixa preta da SMTT, a origem desse mal continuará uma incógnita, penalizando a todos. 

Quem nunca sofreu com a impontualidade de funcionários que dependem dos ônibus? Quem nunca correu risco de ser contaminado por quem utilizou o busão de ambiente insalubre? Durante a pandemia, houve redução aleatória da frota, o distanciamento foi ignorado, e a aglomeração já começava nos locais de embarque, inclusive nos terminais de integração - tudo com omissão da prefeitura: não faltou representante da SMTT mentindo de ‘cara lavada’ dizendo que a frota estava em conformidade com as normas. Quando o sistema é bagunçado, a maioria da população sofre.

No caso, a desordem é tão gritante que não poupa nem os portadores de deficiência - quantos ônibus dispõem de elevador para cadeirantes? As comunidades são atendidas pessimamente por sucatas em quantidade vergonhosa, e intervalos longos. Até houve promessa de melhora a partir da licitação, mas não vingou. O mínimo que se podia esperar seriam duas empresas diferentes passando pelos bairros mais populosos como no Benedito Bentes, por exemplo, com ampla oferta de coletivos a cada 20 minutos. Ao invés disso, impera o monopólio de empresário em rotas mais lucrativas. Os usuários também reclamam que a programação de horário é descumprida todos os dias descarada e impunimente, em diferentes turnos. Impossível confiar no aplicativo Cittamobi. 

Menos ainda no telefone disponibilizado para fazer reclamação (disk denúncia da SMTT: linha 118). A bagunça é geral. Difícil saber por onde começar a organizar. Baixar a tarifa parece ter sido um bom começo, mas não basta. O desafio é grande para o próximo superintendente dos transportes, cujo perfil deve ser de alguém com bom trânsito no meio, capacidade técnica e honestidade suficiente para lidar com o orçamento milionário da casa sem se corromper. Deve ser capaz de identificar no quadro efetivo os que realmente podem contribuir com a moralização, ao invés de tratar a categoria com hostilidade.

A equipe padece de muitos vícios, é verdade, mas há exceções, tem quem entenda de trânsito e transporte, e há também os que ainda têm motivação para dar o seu melhor, principalmente se enxergar seriedade no novo titular da pasta. Desde o início do mandato de Cícero Almeida os que comandaram a pasta deixaram rastro de destruição, causando desmotivação generalizada. Acabaram, entre outras coisas, com a câmara de compensação (hoje uma farsa), o uso adequado do Fundo de Transportes, e de quebra, comprometeram o pouco da credibilidade que o órgão possuía. No rastro dessa lacuna, quem controla despesas e receita do sistema de transporte público, pasmem, é a própria associação dos empresários do setor. 

É semelhante a raposa tomar conta do galinheiro. A Transpal é quem dá as cartas, no lugar do município. Apresenta os custos do sistema, a evasão, planilha de gastos, etc, de forma que no final sempre haja déficit, mesmo com a tarifa nas alturas. Enfim, a SMTT é a verdadeira casa da mãe joana. Vai ser difícil organizar, mas nunca impossível. Basta não ter ‘rabo preso’ com empresários dos transportes, nem se curvar às tentações das propinas, seguindo firme na moralização do serviço. A seu favor, a SMTT tem uma arrecadação fantástica, suficiente para seus custos, inclusive investimentos.

A receita gerada pelas multas e taxas de serviços é cobiçada por todos os partidos políticos, mas não se pensa em resolutividade. O Ministério Público, que deveria exigir, faz vista grossa diante da ineficácia do órgão. Até agora faltou vontade política, transparência, assertividade e moral por parte dos gestores. Portanto, há muito a ser feito. A população está na torcida, independentemente de questões partidárias, afinal, Maceió precisa com urgência que as políticas públicas funcionem bem, e na velocidade do mundo moderno.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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