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Lúdico com etnia

17/12/2020 - 12:00
Atualização: 17/12/2020 - 20:54

ACESSIBILIDADE

Divulgação
Boneca indígena
Boneca indígena

Sempre me emociono com histórias de superação. Não foi diferente quando vi a reportagem da índia Luakan, nascida no Amazonas e criada em Viseu, no Pará. Ainda adolescente aprendeu a costurar, mas para viver do ofício batalhou fora do domicílio original. Escolheu o Rio de Janeiro, em cujos ateliês e confecções pediu emprego. Costurou desde biquinis até roupas de festa. Conseguiu se sustentar e mandava dinheiro mensalmente pra família, na humilde cidade de Viseu. 

Também juntou um pouco pra realizar o sonho que nunca saiu do seu imaginário: viver exclusivamente da produção de bonecas de pano. Ouvia risos de desdém quando fazia tal revelação, o que ela transformava numa determinação ainda maior. Enfim, no começo desse ano Luakan abandonou o emprego de décadas para se dedicar às bonecas. Já tinha feito dezenas ... era preciso muito mais, afinal, queria expor variedades. Nada menos que a coleção indígena que ela denominou Anaty: com traços da beleza ímpar das índias brasileiras. Todas pintadas a caráter, com acessórios tribais, boca bem contornada, olhos que traduzem vivacidade, sabedoria dos ancestrais, doçura primitiva, enfim, pura beleza nativa, longe de qualquer afetação/influência de outras culturas. 

Talvez Luakan tenha subestimado o próprio talento um dia. Demorou, mas bastou mostrá-lo ao mundo que logo ‘viralizou’. Dois meses após abrir seu negócio veio a pandemia, e os clientes sumiram. A neta da índia empreendedora teve a iniciativa (melhor dizer intuição) de filmar com a cena da vó confeccionando as bonecas indígenas, e criou o instagram @bonecasanaty. Resultado? Choveram elogios, fãs e pedidos. Até o fantástico se interessou. O trabalho ganha visibilidade a cada segundo, e segue encantando mundo afora, afinal, a indústria de brinquedos nunca teve semelhante ideia de agregar respeito à etnia em seus produtos. Quantas bonecas índias já foram lançadas? No entanto, não faltam crianças (de todas as idades) apaixonadas pela Coleção Anaty, incluindo mães, tias e vós. 

Brincando a criançada aprende a acolher a diversidade étnica que deu origem a nossa Nação. De quebra, nós, adultos, temos aí outra lição paralela: Deus dá talento próprio a cada um, e o suficiente para que dele sobreviva, gerando além de renda, satisfação e abundância. Apesar da pandemia, a índia de Viseu já tem fila quilométrica de encomendas. Viver daquilo que sabemos fazer com amor não é sorte, é assertividade. Sejamos assertivos que o resto vem naturalmente, por providência divina. 

É ou não é uma bela estória de superação? Pensar que o brinquedo simples contribui com a educação maximiza inda mais o feito. Inseriu no mágico universo lúdico um olhar afetuoso sobre a etnia brasileira.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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