colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Tique-taque...

03/07/2022 - 09:06

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Reprodução/Youtube
Acidente com gás tóxico mata ao menos 10 na Jordânia
Acidente com gás tóxico mata ao menos 10 na Jordânia

Diz o ditado que prevenido zomba do tempo. Não é o que parece em certos casos. Nesta semana assisti na Netflix a um documentário sobre uma série de atentados ocorridos em Londres na década de 1990. E me chamou vivamente a atenção o comportamento das pessoas que em depoimentos relataram em detalhes o ocorrido.

Ao descobrirem uma bolsa abandonada no meio de uma feira livre que do seu interior emitia um tique-taque alto e ritmado, as pessoas, ao invés de adotarem o procedimento correto de se afastar e avisar a polícia, se reuniram em torno da bomba para elucubrar possibilidades sobre o que fazer com ela. E enquanto isso,
tique, taque, tique, taque...

Uma senhora feirante relata que após se aproximar e constatar pelo som que aquela bolsa poderia conter uma bomba, retornou à sua banca de verduras e...continuou a vender seus produtos como se nada estivesse acontecendo e tampouco avisando aos fregueses e pessoas que circulavam por lá.

Outro relato indicou que enquanto as pessoas estavam lá discutindo o que fazer com a provável bomba, um ladrão de feira se aproximou e rapidamente – na frente de todos – retirou a bomba da valise que a escondia e roubou a bolsa, deixando a bomba e seu cadenciado tique-taque, tique-taque à vista de todos. Somente aí alguém teve a ideia de chamar a polícia. Que, tardiamente, não teve como impedir a bomba de explodir ferindo dezenas de pessoas que não haviam se afastado suficientemente e poderiam ter morrido...

Notem: as pessoas desconfiavam que o tique-taque poderia ser de uma bomba, depois tiveram certeza ao meliante roubar a bolsa onde ela estava escondida e, ainda assim, muita gente permaneceu próximo dela, mesmo quando a polícia chegou, ferindo-se gravemente!

Durante essa semana, uma noticia correu o mundo dando conta de que um acidente com um container que carregava cloro no seu interior havia sofrido um acidente no porto da Jordânia, no Oriente Médio, e que por conta do acidente morreram 10 pessoas e 250 outras ficaram feridas. E foi apenas um micro acidente com um único container com cloro...

Em Maceió, autoridades dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal) e políticos vêm, reiteradamente, fazendo vistas grossas à presença de uma indústria cloroquímica operando DENTRO da cidade. Com todo o perigo potencial que isso acarreta para a saúde e a vida de centena de milhares de pessoas ao alcance do cloro e outras substâncias altamente tóxicas que são produzidas pela empresa DENTRO de Maceió, em caso de acidente grave.

O que fatalmente nos leva a uma analogia com a bomba londrina dos anos 1990. Mas com uma diferença. Lá as pessoas demoraram, mas chamaram a polícia. Por aqui grande parte dos que moram, trabalham, estudam ou usam as vias próximas à indústria química de grande porte como passagem obrigatória, são “tranquilizados” desde sempre por uma enormidade de mensagens esculpidas milimetricamente pela empresa para edulcorar o perigo potencial que a cidade vivencia cotidianamente. Lá os cidadãos que não se preveniram, não puderam zombar do tempo. Como será por aqui se acontecer um desastre de grandes proporções na indústria?

O pior é que empresa e autoridades sabem haver espaços adequados para a relocalização da Braskem, que isso irá reduzir a sua rejeição no estado. Mas nada fazem. Insistem no cinzento. Só nos resta alertar e denunciar. E rezar para que nada de ruim aconteça.Tique-taque...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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