colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Que lorota é essa Sefaz-AL ?

15/05/2022 - 08:41

ACESSIBILIDADE

Sefaz/AL
Secretaria de Estado da Fazenda
Secretaria de Estado da Fazenda

Todos sabem pela enxurrada de informações que recebem diariamente por uma profusão de canais de mídia das mais diversas tendências, que este país passa por uma enorme crise econômica – à qual não vamos comentar já que não é ela o objeto direto dessa coluna de hoje. Mas é preciso que se diga que esse mau desempenho da economia deve “coroar” no final de 2022, o anúncio de mais um raso crescimento do PIB brasileiro, de no máximo 0,5% (meio por cento), ou seja, quase nada.

Costumo dizer que esse país nas últimas décadas tem feitos sucessivos voos de galinha quando se trata do seu desempenho econômico. E isso se reflete diretamente no comportamento do seu PIB anual. Em 2022, por exemplo, aquele voo galináceo se tornará uma corrida pedestre mesmo, tal a fraqueza dos indicadores econômicos do país este ano.

Pois bem, é num cenário desses, de desemprego gigante (mais de 11%), inflação caminhando célere para fechar o mês em 12,5% a.a. (a maior desde o advento do Plano Real) e, com um governo caótico sem planos ou qualquer arremedo de projeto de governo que não a reeleição do atual presidente, que – estupefato – leio nas manchetes dos principais jornais locais que a secretaria da fazenda de Alagoas está afirmando em boletim informativo de 12.05.22, que a economia alagoana cresceu em um mês, 34%!!!!

Está lá, literalmente: “as atividades econômicas de atacado, varejo e indústria, obtiveram um crescimento nominal, em conjunto, de 34% no mês de abril, comparado com o mesmo mês no ano anterior”!!! Anote leitor: 34% de crescimento em um mês! Justo em Alagoas, um estado de economia fragilíssima que todos sabemos “quando o Brasil dá um espirro, por aqui a ameaça de uma pneumonia na saúde econômica local é a realidade”.Não precisa ser economista para saber que aqueles 34% se trata ou de uma enorme fake news, ou um absurdo desconhecimento das técnicas mais rudimentares da ciência econômica, ou – prefiro acreditar – um cochilo dos responsáveis por soltar a informação – deixando, quem sabe para algum estagiário sem preparo e sem supervisão – fazer análise tão estapafúrdica. Que precisa ser urgentemente reparada.

Ao longo de todo o “documento” são derramados números e mais números positivos, insinuados como se deles derivasse crescimento de Alagoas, um estado que entre 2002 e 2020 teve queda real do PIB da ordem de 46%! Seria surreal esse crescimento - de um mês para o outro, em 2022 - não fosse uma enorme furada.

O que o “boletim” não diz (sabe-se lá por quais interesses) é nós, estamos pressupondo, é que os números agigantados de “crescimento” (sic) são na verdade fruto de arrocho ao contribuinte, pois deve se tratar de aumento de receita fiscal. Traduzido para os leigos como incremento da arrecadação de impostos.Isso num estado que é campeão em desigualdades, possui mais de 60% da sua população na classificação de pobres e cerca de 1/3 desses na extrema pobreza, e uma representatividade econômica pífia no cenário nacional que mal supera nos últimos 70 anos, a 0,5% do PIB Brasil.

Um estado que parou no tempo em termos de crescimento econômico real.

Enquanto autoridades e órgãos públicos insistirem em distorcer dados ou emitir diagnósticos errados ou, no mínimo, de baixa qualidade sobre a realidade de Alagoas, fica mais e mais difícil sair dessa arapuca de subdesenvolvimento e pobreza em que o estado está metido. Dados sobre crescimento ou noutro qualquer sobre o estado é coisa séria, não pode continuar tendo esse tipo de tratamento por quem deveria zelar por sua qualidade e fidedignidade. Não se cura doente, sem um bom diagnóstico. Simples assim.

A secretaria da fazenda de Alagoas precisa consertar a informação distorcida que algum assessor distraído (ou não), soltou para os alagoanos. Serei o primeiro a registrar quando isso ocorrer.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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