colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Quebrado e sem esperanças de saídas

08/05/2022 - 11:31

ACESSIBILIDADE

Agencia Brasil
Alerta: 78% dos brasileiros estão endividados
Alerta: 78% dos brasileiros estão endividados

Ao leitor: havia prometido para hoje a conclusão do artigo publicado no jornal EXTRA dessa semana - com nossa visão para saídas para Alagoas rumo ao leito natural do desenvolvimento, por onde quase nunca transitou. Não foi possível concluir alguns estudos e levantar os últimos dados para compor o quadro que queremos apresentar. Fica o compromisso para o próximo domingo.

Mas o tema de hoje – atual e preocupante – também é empolgante. Justamente quando o país se prepara para eleger novos representantes, a economia em ruínas no âmbito nos três níveis, federal, estadual e dos municípios, emite todos os sinais típicos de “falência múltipla dos órgãos” sem que os “doutores e seus auxiliares” se mexam para, ao menos, estabilizar a doente.

Inflação fora de controle e crescendo, característica típica de uma economia em estagflação como temos alertado seguidamente; desemprego gigantesco; crise na educação, na saúde; a insegurança campeando; a renda das pessoas diminuindo; cidades e mais cidades sendo paulatinamente dominadas – literalmente – pela droga e/ou por facções criminosas; gasolina, gás, energia e água com preços criminosamente exorbitantes (graças a fórmulas escrotas estruturadas para beneficiar exclusivamente donos e acionistas).

Juros e mercado financeiro voltando à ciranda de sempre de explorar maximamente o pobre coitado do cidadão que, incautamente, apela para empréstimos e créditos diversos, abusivos, e escorchantes e agora, literalmente criminosos-legais (passou batido da população, mas saibam que aposentados estão comprometendo 40% de suas rendas com empréstimos consignados, que seriam literalmente impagáveis, não fosse descontado direto do seu salário junto ao INSS, tal o grau de comprometimento que uma operação dessas encerra).

É só fazer uma conta simples, o sujeito ganha um SM de proventos do INSS e deixa 40% com os bancos, sobrando-lhes 40% para o resto (que é nada menos que pagar aluguel, comer, vestir, remédios, e outras coisas básicas como essa). Tá na cara que isso não pode continuar sob pena de antecipar a passagem dessas pessoas pelo planeta. Empréstimo consignado não pode – e nem deve ultrapassar a 20% da renda bruta do tomador e ponto final. É coisa de bom senso, mas cobrar bom senso por aqui está sendo coisa cada vez mais difícil. E aí o quadro, o quadro só deteriora.

Essa semana o Banco central novamente vai aumentar a SELIC, a taxa básica de juros que é o referencial para o mercado financeiro praticar seus preços e os demais mercados reajustarem para cima seus produtos e serviços. Dizer que não há beneficiários numa situação como essa seria faltar com a verdade e a técnica econômica. Há, sim, mas, certamente, assalariados e aposentados, não estão entre eles. O problema é que tudo tem limite. Quanto mais aperto para o consumidor, menos demanda por produtos e serviços. Simples assim. Mas é por esse caminho soturno que esse país voltou a andar. E a turma do andar de cima não está nem aí...

É bom lembrar que a taxa básica de juros estava em inéditos 2% em março de 2021. Cresceu “apenas” 6 vezes em 12 meses. Não há consumidor que aguente: explodiu o endividamento das famílias, piorou muito os indicadores de conta em atraso e o comprometimento da renda dos assalariados. E como no país, 60% do PIB está atrelado ao consumo das famílias não é difícil captar que este Brasilzão, está ferrado pelos próximos anos.

O PIB vai ser ainda menor que os rasíssimos 0,5% esperados para este ano (e no próximo não vai passar muito de 1%). A indústria já sinaliza que em 2022 terá um crescimento negativo de 1,2% (acho que deverá ser ainda pior). Os serviços, o carro-chefe da economia nacional, estima avancar 1,8% este ano: aposto que mal alcançará o patamar de 1%.

Alguns números arredondados para enriquecer os argumentos: entre marco 2020 e março de 2022 a cesta básica aumentou 47%, o salário mínimo, 16% e a renda média caiu 4,2%. Resultado: forte aumento das dívidas das famílias: + 24%. Ao não dar conta de bancar suas despesas, o cidadão está se endividando no que aparece: cartão de crédito rotativo (juros de 355% a.a.), cheque especial, etc. E isso tem preço. A inadimplência das famílias no cartão de crédito já anda na casa dos 35% e crescendo... Como cresce a inadimplência (de jan/abril deste ano, ela já é maior que a de todo o ano de 2021).

78% dos brasileiros estão endividados, e os superendividados neste país no dia de hoje são nada menos que 18% dos brasileiros (e entre estes, 21% tem mais de 50% da renda comprometida!). Tá na cara que isso vai explodir. E adivinhe quem vai pagar a conta? Se pensou no restante dos não endividados, não ficou longe de acertar. A conta será dividida para todos. O sistema financeiro não perde, então...

Com um quadro destes e nenhum movimento dos governos para – senão resolver, ao menos dar um freio nesse despautério – ao que tudo indica teremos um segundo semestre ainda pior (as eleições irão anestesiar a discussão dos problemas que voltam a tona em novembro).

Enquanto isso nossos intrépidos candidatos à presidência promovem – no caso do atual presidente – um liberou geral dos cofres para aquela que será uma das mais caras tentativas de reeleição de um presidente no cargo, descompromissado de quaisquer promessas de arrumação da casa no pós-eleição.

Já o outro, o manduxiraba petista, este sequer pediu desculpas pela roubalheira desenfreada que liderou e que quebrou o país. Pelo contrário, mancomunou-se com o Supremo e afirma agora que foi inocentado das acusações de ser ladrão do dinheiro público. Não foi inocentado. E será uma tragédia ainda maior para esse país a sua volta ao poder.

Esta Nação corre sérios riscos ao longo dos próximos anos, se nada for feito de forma consistente e radical para mudar o quadro que se desenha para os próximos 10 anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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