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Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Opinião: Como perder 46% do PIB em 17 anos

01/05/2022 - 08:24

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Agencia Brasil
Números representam a produção econômica de Alagoas
Números representam a produção econômica de Alagoas

O titulo é propositadamente chamativo. Mais uma vez chamo a atenção para um dado estarrecedor que divulguei há pouco e tem passado em branco pela elite política e técnica local, acostumada a fazer ouvido de mercador para absurdos de tamanha e rascante dureza que afetam diretamente a 3,35 milhões de pessoas:

Nos últimos 17 anos (2002 A 2019) o PIB de Alagoas teve uma queda real de 46%!!! Os dados são do IBGE e as contas, do colunista.

Um horror pelo que a informação em si encerra de desumano para mais de 3 milhões de alagoanos pobres, remediados ou na extrema pobreza. Um dado que avassala os sentimentos até dos mais duros e empedernidos corações. Ainda mais porque, eles vêm junto com um conjunto orquestrado de mentiras recorrentes de todos os lados, tonitruados de forma espalhafatosa e desavergonhada por essa gente que se diz representar o povo (sic!) informando que Alagoas cresce (sic!) se desenvolve (sic!).

Os cangurus sabem muito bem que mentem sobre o estágio real da economia desse estado, quebrada e com uma dívida impagável que vem sendo empurrada de barriga há muitos anos. Um estado incapaz há dezenas e dezenas de anos de mudar o perfil da pobreza e da extrema pobreza local, uma das maiores do mundo.

Uma gente insensível que pouco está se ligando se somos o estado mais desigual do país – uma nação que, por sua vez, está entre as mais desiguais do mundo. Nossa elite representa apenas 2% da população! Até o Brasil desigual é melhor, a elite brasileira são 8% das pessoas dessa Nação. É ninguém por aqui fica sequer vermelho com uma aberração dessas!

Essa queda de 46% do PIB em 17 anos desmascara os discursos recorrentes e vazios de progresso, coisa que passa ao largo de Alagoas há muitas décadas. Aos não iniciados no tema: o produto interno bruto de um estado é a soma de tudo que ele produziu (bens e serviços) ao longo de um ano. E quando se perde uma grandeza da ordem de 46% do PIB em menos de duas décadas, significa que o estado deixou de produzir quase metade do que produzia 17 anos atrás! Um retrocesso colossal!

Passou da hora dos cangurus políticos e parte significativa das classes A e B desse estado que vive e convive nos 3% do território que “tem uma beleza rara”(com a licença do mestre Aldemar Paiva), parar de fazer de conta que o “resto” que vegeta nos 97% do território alagoano, o que torna Alagoas palco avassalador de tantas ignomínias, não existe. Existe, e bate a porta dos senhores, sejam esmolando ou assaltando, trabalhando em troca de merrecas ou se prostituindo com os seus filhos para dar de comer aos filhos da noite que elas tiveram (quem sabe se até com eles...).

Há coisa de 6 meses, tenho conversado com muita gente dos vários segmentos da sociedade local, tentando compreender – depois de mais 30 anos de ausência – de como esse despautério, por qualquer ângulo que se olhe, é encarado, e quais as alternativas de soluções que se vê por aqui, para o enfrentamento do enorme problema alagoano. Colhi diagnósticos – parte errados ou contraditórios tecnicamente, alguns repetições do mais do mesmo de sempre. Mas não ouvi soluções disruptivas ou inovadoras, capazes de ajudar – de fato - a mudar a tragédia que é Alagoas.

Uma coisa é clara: quando se erra o diagnóstico, não há como se receitar o remédio que vai salvar o doente. Simples assim. É o que acontece aqui com a avalanche de mesmices nonsense ou do mais do mesmo inconsequente que apenas empurra o estado para ainda mais fundo que o fundo do poço em que se encontra atolado no barato há 7 décadas!

O que não está acontecendo aqui é que levou Alagoas a algo ainda pior que a temida estagflação de que tanto falo – uma mistura de inflação alta com estagnação, o quinto dos infernos. Por aqui, sinto dizer isso, estamos mesmo é numa baita de uma depressão econômica, algo profundamente pior que o pior dos mundos econômicos, uma vez que junta ao mesmo tempo, alta inflação, estagnação econômica, desemprego gigante, desigualdade absurda, pobreza e pobreza extrema, gigantes; analfabetismo e semianalfabetismo cavalares sem falar de tantos outros terríveis indicadores que se apossaram das Alagoas.

A posição de Alagoas na rabeira de quase todos os indicadores do país é fruto direto dessa caminhada de “cabra cega” que os dirigentes sempre imprimiram ao estado. Ora beneficiando de forma vassala usineiros da cana de açúcar (antigos “donos” que quebraram o estado), ora industriais do sal-gema (que nada representa no PIB, mas goza de prestígio tal, que faz-desfaz, manda e desmanda em nossa sofrida terra, ao ponto de, passados 4 anos da megadestruição que ela provocou, até hoje não ter pago um centavo do que deve a Maceió pelos prejuízos bilionários (estimados em até 12 bilhões de reais) materiais e imateriais.

Não se tem conhecimento de nenhuma negociação clara, transparente e em especial, digna que tenha sido levada em frente pelas autoridades locais para resolver esse problemão. Que se amplia quando a empresa finca pé e diz: daqui não saio, quando se trata da planta industrial química de alta periculosidade que ela opera DENTRO de Maceió, ameaçando potencialmente a vida de milhares de pessoas. Isso, para não falar do prejuízo bilionário à cidade que – interditada – não tem como expandir-se pelo seu litoral sul, o mais belo e o potencialmente, mais valorizado.

Aproximam-se as eleições. Até agora, nada de nada de propostas, eles querem de novo levar no lero, é preciso que os alagoanos de bem e não comprometidos com isso que aí está – inclusive políticos que não se melam no sangue do povo de Alagoas – cobrem de forma didática, mas firme e objetiva: quais são as soluções que eles tem para resolver o problema de Alagoas. Aí sim, vamos poder discuti-las aberta e democraticamente para ver o que presta e o que é lixo.

Vamos estar aqui nessa trincheira. Não vai passar em branco mais uma vez as campanhas “do nada” que a maior parte dos políticos locais estão acostumados a fazer. Vamos cobrar, especialmente de candidatos a governador e senador, o que é que eles vão fazer de diferente que não fizeram até hoje, para tirar Alagoas da M.

Não é dando “tiro prá todo lado” que o estado vai sair desse estado desesperador em que se encontra. Não são promessas eleitorais vãs de curto prazo (4 anos) que irão mudar nada. Mas não vamos culpar apenas os políticos. Afinal, o métier deles é vender sonhos, aos técnicos cabem materializá-los sob a forma de propostas que por aqui nunca apareceram para resolver de fato o problema. Passou da hora de leros.

Veja-se como ilustração, o caso da academia, sempre voltada para si. Não é incomum a sua produção técnica quase sempre concluir algum estudo, ressalvando que é preciso mais estudos... Há boas exceções, claro, mas não em áreas que ajudem a tirar Alagoas desse mega imbróglio.

Estou chegando à conclusão que não são os políticos os únicos culpados. São, sim, mas não de todo. A elite técnica local – e sua falta de qualidade no encaminhamento de soluções para os problemas locais – é também parte integrante do problema. Afinal, político nenhum deixa de aproveitar uma boa ideia – que vai lhe dar votos e prestígio – se não o fazem, é por que não recebem essa contribuição técnica. Simples assim.

E antes que nos cobrem soluções, há 4 anos apresentamos aqui mesmo nesse espaço, e em entrevistas para o EXTRA, juntamente com o prof. Dr. Edmilson Veras, sugestões estruturais para mudar a cara de Alagoas. Não nos cobre. Ninguém se interessou sequer em conversar, sejam políticos, seja a academia, sejam empresários preocupados com o futuro desse estado, sejam ninguém...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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