colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A perda de relevância do Nordeste

24/04/2022 - 07:28
Atualização: 24/04/2022 - 07:57

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Nordeste é um museu a céu aberto, diz Elias Fragoso
Nordeste é um museu a céu aberto, diz Elias Fragoso

Diz o ditado que quem vive de passado é museu. Se isso for verdade, o Nordeste é um museu a céu aberto. Durante os três primeiros séculos após sua descoberta (XVI a XVIII) foi a região mais “desenvolvida” do país, mas a partir do século XIX começou o seu esvaziamento econômico chegando a se tornar em meados do século passado, a região de maior refluxo de pessoas nas migrações internas do país, em especial para o sudeste (não à toa se diz que foram os nordestinos que “construíram” - no sentido de pegar no pesado - São Paulo).

O Nordeste “desenvolvido” do inicio da colonização brasileira, deu lugar a uma região esvaziada da sua importância econômica. Que, apenas a partir da década de 1960, experimentou a tentativa de mudança desse quadro, via politicas de desenvolvimento regional. A criação do GTDN – Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste liderado por Celso Furtado, pode-se dizer de forma sumária, preconizava o Estado como condutor do planejamento econômico regional; a superação do atraso econômico pela via aumento da produtividade; e a recuperação do atraso social pela inclusão da sua população.

Segundo esse arranjo, as políticas econômicas orquestradas pelo Estado teriam como dínamo dessa dinâmica, recursos de fundos federais para serem investidos na melhoria da infraestrutura regional (via estados) e, via incentivos fiscais, para o setor privado promover a sua industrialização.

Pelas razões conhecidas (existe toda uma literatura sobre o tema), a proposta não vingou. E de lá para cá, apesar de insistentes tentativas dos seguidores de Furtado nesses mais de 60 anos, a aplicação das teses do GTDN se revelou rotundo fracasso ao serem confrontadas com a realidade dos desvios programáticos, da corrupção e da endêmica ineficiência estatal.

Os dados confirmam. Hoje, como há 60 anos, o Nordeste permanece na rabeira das demais regiões do país; A região que é 30% da população brasileira produz apenas 14% da riqueza nacional; O PIB regional não só é o menor do país, como é quase 20% menor que o da atrasada região Norte do Brasil; Em 84% dos municípios da região, o setor público continua a principal atividade econômica da região, equivale a 42% do seu PIB, e a renda per capita destes é 50% menor que a renda per capita do Nordeste de miseráveis 1.077 reais, a segunda pior do país.

As soluções de Furtado (e seguidores) além de pouco mudar o quadro relativo do subdesenvolvimento regional, tornaram a população do Nordeste ainda mais dependente do Estado. Mas ainda se insiste por aqui nas mesmas teses batidas, nos mesmos erros com roupagens diferentes, no mesmo estatismo desabrido, num distributismo do nada, que bate de frente com a constatação mundial de que este caminho só leva a mais pobreza, atraso, subdesenvolvimento.

Insistir nessa rota é nadar contra a maré. Agora, pior é que ninguém, nenhuma instituição, apresenta saídas para o problema que não sejam o mais do mesmo de sempre. De concreto, o que existe são iniciativas pontuais aqui ou acolá, decorrentes da própria dinâmica do seu pequeno mercado interno. Ou os manjados “planos” sazonais do governo federal. De novo, mais do mesmo. Nada relevante na ótica macroeconômica. 

Nos estados, planejamento e projetos de qualidade viraram um deserto. O Nordeste cada vez mais perde relevância econômica. É precisa virar de vez essa chave. Por estas bandas, até parece pecado pensar em soluções menos estado e mais mercado. A rota para se sair dessa furada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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