colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Um escândalo e outro a caminho

20/03/2022 - 08:21

ACESSIBILIDADE

Afrânio Bastos
Sede da Braskem, localizada no bairro do Pontal da Barra, em Maceió
Sede da Braskem, localizada no bairro do Pontal da Barra, em Maceió

Fake da Braskem – Em mais um dos seus edulcorados comunicados milimetricamente esculpidos para ser maximamente evasivo ora sendo veiculado na mídia local, a Braskem afirma ter uma participação de 15% do PIB de Alagoas. Mentira! Que vem sendo alimentada há dezenas de anos sem que ninguém se atrevesse a desmenti-la cabalmente.

Mas para isso, não precisa ir longe. É só consultar o site da CNI, o órgão de representação patronal da indústria e, portanto, o mais fidedigno fornecedor de dados do setor, para lá encontrar a informação de que o PIB industrial de Alagoas equivale a 12,1% do PIB do estado (como poderia a Braskem então representar 15%?...).

E mais: que na composição do PIB industrial do estado, os setores da alimentação, construção civil e de água, energia e gás respondem por exatos 75%. E o setor químico (Braskem incluída) por apenas 6,1%. Uma continha simples e lá está: o PIB do setor químico de Alagoas equivale a 0,8% (menos de 1%) do PIB Estadual.

E como o segmento químico possui outras indústrias além da Braskem, é possível inferir que a participação da empresa no PIB alagoano não deve ultrapassar a 0,6% (pouco mais de meio por cento) e não 15% como ela afirma. Esse é que é o fato. Que sempre foi escamoteado da população pela empresa e autoridades há décadas, para alimentar o discurso fake de ser a Braskem o sustentáculo da economia do estado. Que, como vimos aqui, não é. E ponto!

A insistência da empresa em tripudiar os alagoanos e o Brasil - esse dado fajuto é só a ponta do iceberg - precisa ser analisada seriamente pelas autoridades do judiciário, do executivo e do legislativo. Não é mais cabível atitudes de avestruz. É Alagoas e Maceió quem estão perdendo, sangrando há quatro anos sem que nada de relevante aconteça por parte das autoridades para resolver a questão.

E por falar em transparência... Essa semana, o líder dos empresários do bairro do Pinheiro, Sr. Alexandre Sampaio, denunciou mais uma manobra da Prefeitura ao contratar uma especialista que deu uma passadinha rapidinha por aqui, conversou com meia dúzia de pessoas e foi embora para enviar em seguida um relatório “científico de danos não materiais sofridos pelas vítimas do desastre socioambiental” (sic) segundo informa o Gabinete de Gestão Integrada para a Adoção de Medidas de Enfrentamento aos Impactos do Afundamento dos Bairros (GGI dos Bairros), órgão da Prefeitura de Maceió. Isso me cheira a mais uma tentativa de se “encurtar caminhos”. Não é por aí que a banda toca. Senão vejamos:

Alexandre aponta uma série de incongruências no desenho operacional que foi apresentado às lideranças, que rejeitam a priori o encaminhamento que a prefeitura pretende dar em relação à avaliação dos danos não materiais (grifo nosso) por uma socióloga que aqui não reside, nada conhece da realidade local e menos ainda, do megadesastre ambiental. Portanto, não qualificada, por mais especializada que venha a ser para o trabalho que demanda tempo e expertise local.

A pergunta que não quer calar: Quando é que os poderes constituídos irão entender que em Alagoas existe gente capaz de fazer até melhor esse tipo de serviço, com equipe qualificada, multidisciplinar e local. Que é quem sabe e conhece dos problemas reais de Maceió e das pessoas que foram agredidas pela Braskem que provocou o megadesastre ambiental, o maior do mundo em área urbana...

O mesmo se deu com a Braskem anteriormente, quando da celebração do discutido acordo com o MPF no estado. Ela também enveredou pela senda de contratar empresas alienígenas sem sequer dar aos alagoanos o direito de concorrer para os contratos. Talvez tenha sido porque 198 milhões de reais por um plano ambiental e outro sociourbanístico fosse demais para os humildes técnicos alagoanos. Na verdade a empresa precisa vir a público para justificar esse montante gigante que é desconhecido e não praticado no mercado global para um trabalho do mesmo porte...

De outro lado, a prefeitura também precisa esclarecer à sociedade e à câmara de vereadores que tipo de negociação ela vinha entabulando com a Braskem. Não fosse o desentendimento entre as duas em torno de algo que ninguém de fora sabe, e que findou com a denúncia da rasa qualidade da proposta de plano sociourbanístico que a empresa, por 198 milhões de reais elaborou para Maceió (coisa que não é da sua alçada, e sim, da Prefeitura), e ninguém estaria sabendo da tal negociação. Aliás, o padrão das “negociações” da empresa com autoridades locais.

Frise-se que a Braskem vinha manobrando para aprovar o tal do plano sociourbanístico através de “escuta pública” dirigida que foi sustada na undécima hora graças às denúncias da população.

Se as tratativas para solucionar os problemas de Maceió e dos refugiados ambientais continuarem no diapasão atual, os cidadãos em levante, que com a carta aberta enviada as autoridades do mercado brasileiro e americano lograram a suspensão da venda da empresa e a abertura de processo na CVM para averiguar suas denúncias e, mais recentemente obtiveram outra vitória com a suspensão da “escuta pública” fake que a Braskem estava articulando, vão voltar à carga.

Desta feita ampliando a abrangência dos seus reclamos para todos os tribunais superiores e organismos internacionais de justiça; para o TCU; para Controladoria Geral da União; Para o Congresso Nacional; para toda a mídia nacional e internacional; para todos os conselhos federais nacionais de representação de classe; para a ONU; para o Papa e novamente para as bolsas de valores do Brasil e dos EUA onde a empresa opera e para a CVM e SEC (“xerifes” dos mercados de capitais do Brasil e EUA).

Não se vai parar até essa questão ter sido resolvida COM LISURA E TRANSPARÊNCIA.

Quando a empresa vai entender que, sem mudar de postura e sem conversar de forma transparente e qualificada através de seus canais decisórios com a representação da sociedade alagoana em levante, as coisas só ficarão mais difíceis para ela a cada dia?
Quando a prefeitura vai entender que sem conversar com a representação da sociedade em levante, todas as suas iniciativas serão objeto de máxima vigilância, cobrança de transparência e de prestação de contas públicas auditadas pela sociedade.

Quando assembleia legislativa, câmara de vereadores de Maceió, bancada federal (senadores e deputados) vão parar de fazer suspeitíssimos corpos moles e atuarem para ajudar a resolver o problema de Maceió? É a igreja católica? E as igrejas evangélicas? E as entidades de classe? Quando todos afinal vão parar de bancar os avestruzes?

Cadê todos?!!!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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