colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Cidade Sitiada III

01/07/2021 - 10:18

ACESSIBILIDADE

Bruno Fernandes
Moradores durante mudança no bairro do Pinheiro
Moradores durante mudança no bairro do Pinheiro

A Lei de Murphy cabe como uma luva na história da exploração do sal-gema, a maior riqueza mineral de Alagoas: “Se alguma coisa pode dar errado, dará”. Ao que acrescemos: da pior maneira, no pior momento e de modo a causar o maior dano possível. Senão vejamos:

A escolha à época de área habitada (Pontal da Barra) próxima do Centro de Maceió e de importantes equipamentos urbanos como o HGE, estádio Rei Pelé e Fac. de Ciências Médicas e outros para implantar indústria química de grande porte, foi erro crasso nunca consertado que potencializa o perigo que planta deste tipo encerra operando próxima à aglomerado urbano.

O nunca resolvido problema da incapacidade técnica do IMA – Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, órgão responsável por autorizar bianualmente a renovação do licenciamento ambiental para a Braskem continuar a explorar as minas de sal-gema e fiscalizar a operação do seu complexo industrial do Pontal da Barra; e a anomia da Agência Nacional de Mineração (antes DNPM) responsável por autorizar as escavações das minas em cavidades localizadas sobre antigas falhas geológicas preexistentes foram falhas brutais que culminaram no engolfamento de 5 bairros da cidade, num dos crimes ambientais da maior gravidade do Brasil.

A Lei de Murphy também se fez valer na frustração do sonho de Maceió se torna um polo cloroquímico importante com presença de indústrias de segunda, terceira e quarta geração que levaria o Estado a dar um salto quântico no seu desenvolvimento econômico e social.

Frustação que se deve imputar à incompetente e frouxa atuação de políticos e autoridades (de propósito ou não?) do Estado ao não pressionar adequadamente a Braskem pela consolidação do polo de Maceió, que resultou por tornar a operação de Alagoas mera fornecedora de matéria prima para empresas de outros polos.

Esvaziada como polo cloroquímico, com uma indústria química em sua área urbana ameaçando diretamente os aqui residentes, com seu subsolo explorado de forma irresponsável, com 5 bairros hoje fantasmas fruto do irreversível processo de subsidência de suas áreas urbanas, com milhares de famílias desalojadas e insatisfeitas com a forma e valores aviltantes com que a empresa tem negociado a indenização dos seus imóveis e com um enorme passivo não resolvido, o sonho do polo cloroquímico virou pesadelo para Alagoas

Com políticos e autoridades prevaricando das suas responsabilidades no enfrentamento da empresa pelo gigante problema criado em Maceió e, com a sociedade organizada fazendo cara de paisagem, a Capital está à deriva em mar revolto no momento crucial da provável troca de comando acionário da empresa até o final deste ano.

De fora das negociações, corre-se o risco – se de novo nada for feito - de vermos o que já está terrivelmente ruim, ficar ainda pior com a troca de “donos” da Braskem. Afinal, afora um documento formalizado com o ministério público federal que trata de forma geral do problema, mas deixa de fora importantes temas como uma avaliação rigorosa dos prejuízos materiais e imateriais provocados ao município e ao Estado, ou a ingente questão da transferência da indústria para local adequado distante do centro urbano da cidade, dentre outros temas (no espaço não cabe listá-los) o risco de Alagoas continuar a ver navios é grande.

Alerta dado. Hora de fazer as coisas direito, gente. Ou vamos continuar a sorrelfa da indústria?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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