colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Uma cidade sitiada II

06/06/2021 - 07:52
Atualização: 06/06/2021 - 09:20

ACESSIBILIDADE

Afrânio Bastos
Economista sugere que maceionse veja de perto os bairros vítimas da mineração
Economista sugere que maceionse veja de perto os bairros vítimas da mineração

Todo maceioense deveria “visitar” o cemitério a céu aberto em que se tornaram os outrora vibrantes bairros do Pinheiro, do Bom Parto, do Mutange, de Bebedouro, do Flexal de Cima, do Flexal de Baixo, de parte significativa do Farol anexa aos três primeiros bairros citados, chegando (até o momento, diga-se de passagem) até o maior complexo educacional da América Latina - o CEPA - irremediavelmente condenado pela ação deletéria da Braskem na região.

Precisa visitar, por que “o que os olhos não veem o coração não sente” como diz o dito popular e, se indignar com o que verá. Com a enormidade da tragédia que ali se desenrola sem que a população de Maceió tenha a real dimensão da tragédia social, cultural, ambiental e das perdas econômica fruto do crime cometido contra esta cidade e sua população pela Braskem. Que, pela divulgação dia sim, outro também, de novos de fatos e áreas afetadas, ainda está distante de terminar.

Expectativa, aliás, confirmada em matéria de ontem do jornal EXTRA e do EXTRA online dando conta de que “talvez” em 2023 seja confirmada (ou não) a eficácia do preenchimento das inúmeras minas da Braskem causadoras dos graves problemas até o momento não resolvidos. Diga-se de passagem, que especialistas como o geólogo Abel Marques tem sérias dúvidas quanto ao sucesso dessa operação...

Num segundo front, é preciso reiterar o enorme perigo que é a operação industrial da empresa química na região do Pontal da Barra, praticamente “dentro” de Maceió, risco que a própria empresa reconhece em caso de acidente grave. Que pode alcançar cerca de 6 vezes mais pessoas que a estimativa do colossal esperado número de 70 mil “deslocados” dos bairros atingidos pela subsidência (que em 2020 alcançou inauditos e aceleradissimos 30 cm de profundidade).

Enquanto isso, a empresa continua através da mídia local com enorme campanha de desinformação distorcendo fatos, negando evidências e não assumindo o crime ambiental por ela perpetrado.

Pior, segue dando as cartas – como sempre aconteceu – sem que o Governo do Estado, eterno ausente de suas responsabilidades legais no caso, ou comprometido por “apoios financeiros” da empresa para campanhas politicas (sic!), ou nunca estruturado para fiscalizar as atividades da Braskem, segue covardemente o script contra os interesses do Estado e da população de Alagoas e Maceió, ancorando-se pusilanimemente nas ações do Ministério Público Federal local na tentativa de fugir da suas responsabilidades.

Mas a anomia é generalizada no setor público estadual e municipal (este recentemente parece ter acordado para a gravidade do fato, especialmente sua Defesa Civil). Alguém aí se lembra de alguma ação – qualquer ação – proativa da Assembleia Legislativa em defesa de Maceió e de sua população em relação à Braskem? E da Câmara de Vereadores de Maceió, que até começou algum movimento, mas – misteriosamente – (por que será?), aquietou-se?

Ou dos deputados federais e senadores de Alagoas, exceto por aparições midiáticas do seu interesse e/ou declarações escrotas de cunho eleitoral? Um único senador que promoveu um seminário fraquinho no Congresso quase foi crucificado localmente por certa mídia e pelos políticos em geral. Na visão deles, “queria aparecer”. Nunca mais se ouviu do senador uma única palavra relevante sobre o tema.

E o que dizer da posição dos Rotarys, dos Lions, das Ongs ambientais de Maceió, de qualquer outra Ong, dos sindicatos – qualquer um - sempre tão ciosos dos “direitos” do trabalhador, das entidades do comércio, da agricultura, dos serviços, das igrejas católicas, evangélicas e de outras denominações, de associações de bairros, da OAB, do Instituto dos arquitetos, do CREA, de toda e qualquer entidade de Alagoas ou de Maceió em relação à inadequada localização e à necessária, imprescindível relocalização da Braskem? Ou ao crime ambiental perpetrado pela empresa – até hoje incólume – que aniquilou 20% da cidade?

Maceió indefesa clama por socorro. Pelo apoio dos organismos representativos de sua sociedade. A população precisa da ajuda da sociedade organizada que não pode mais continuar a empurrar de barriga tão grave problema e continuar fazendo de conta que o problema não é com ela. É sim. É um problema de todos. E o papel a ser exercido por cada um será de fundamental importância, já que se formos esperar pelos políticos, a cidade acaba e eles nada fazem.

Nos próximos meses a Braskem vai ser vendida. Se as entidades representativas de nossa sociedade não se organizarem para exigir direitos básicos de segurança para a população como a relocalização da indústria e um novo e real desenho negocial para a área em subsidência da Capital causada pela indústria química que inclua, além das perdas materiais a valor de mercado, também e principalmente as perdas imateriais que a cidade e o Estado estão tendo, será mais difícil após a mudança societária daquela empresa.

A hora é agora. Ou vai continuar todo mundo fazendo cara de paisagem?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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