NO MATO SEM CACHORRO
Na abertura dos trabalhos do Congresso Nacional nesta semana, Bolsonaro entregou aos novos dirigentes da casa o que seu governo definiu como “35 prioridades” (sic). Um retrato acabado do que é o seu desgoverno. Quem tem 35 prioridades, não tem nenhuma.
O que poderia ser ótima chance para uma arrumada na bagunça caótica do governo, aproveitando o alento que o novo design politico do Congresso lhe proporcionou se transformou numa salada de 35 propostas desalinhadas e sem projetos executivos.
Resultado: entregou de bandeja ao Legislativo o protagonismo político da formulação dos projetos de interesse do país. Espaço imediatamente assumido pelos presidentes do Senado e da Câmara que desidrataram a “salada de propostas do governo” em apenas 4 projetos: a PEC emergencial, as reformas administrativa e tributária e, um novo design para os programas sociais.
O governo, incompetente, vai continuar a reboque do Congresso por pura incapacidade de gestar minimamente sua agenda política, econômica e social. Como foi nos dois primeiros anos de gestão onde pontuou o protagonismo de Rodrigo Maia, graças a inépcia governamental para organizar e liderar a sua própria pauta e levar a bom termo a condução da pandemia.
Só que agora tem um “pequeno detalhe”: Bolsonaro não terá mais como acusar Rodrigo Maia e terceirizar responsabilidades pela sua arrepsia como fez costumeiramente até a pouco no mandato do ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Daqui em diante vamos ver na prática o Centrão velho de guerra dando as cartas no tradicional é dando que se recebe e Bolsonaro cada vez mais preso ao varejo político, à banda podre do Congresso e à sua tentativa de reeleição.
A letargia do brasileiro, a cada dia mais distante do proscênio político, liberando espaço nobre da pressão democrática para que corruptos e incompetentes nadem de braçada no mar de lama e estultice que tomou conta dos poderes constituídos neste país, é fruto direto do modelo político nacional elitista e criminosamente excludente.
Que foi estruturado para acomodar os interesses da elite politica, das corporações estatais e de certos setores empresariais hegemônicos no controle do Congresso. O “resto”, a população, as médias e pequenas empresas e os trabalhadores do setor privado estão de fora. Servem apenas para dar lustro ao que na verdade é cinzento e injusto: eleger os de sempre sem chance de quebrar esse domínio, dando assim aparente respaldo ao status quo.
O torniquete a que está submetida a sociedade brasileira sem acesso ao “poder”, mais e mais se torna insuportável. E sem soluções à vista. No entanto, no momento, a sociedade sequer pode se dar ao “luxo” de rebelar-se, pois o risco do presidente golpista se aproveitar disso em conluio com radicais de direita, o Centrão e certos setores militares xiitas é grande.
Estamos no mato sem cachorro. E sem a perspectiva futura de ver surgir um guia competente com força moral e política para mudar esse estado de coisas e reconduzir o país à sua senda natural do desenvolvimento econômico e social.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA