colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

QUE ANO!

31/12/2020 - 08:56

ACESSIBILIDADE

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Pelo andar da carruagem, 2021 será igual ou pior que 2020
Pelo andar da carruagem, 2021 será igual ou pior que 2020

Existem formas e fórmulas para tentar explicar 2020 do ponto de vista econômico. A questão a meu ver é outra. Economistas se esbaldam todos os finais de anos defendendo pontos de vista técnicos (em geral ligados aos seus interesses comerciais ou de seus patrões endinheirados) para, ao longo do ano, serem desmentidos pelos fatos. Raríssimas, são as projeções que, no final, batem com a realidade.

No final do ano passado a quase totalidade do mercado e o ministro da economia estimaram 2020 como um ano de forte crescimento econômico. Alguns ensaiaram até improváveis 3,5% a.a. O primeiro trimestre do PIB com queda de -2,5% do PIB em relação ao último trimestre de 2019, ano de horrível desempenho, mostrou que a “banda” tocava desafinada. As bazófias de final de ano dos ilustres analistas deram com os burros n’água. Foram “salvos” pela chegada da pandemia que tumultuou tudo e fez a todos esquecer aquelas “profecias”.

Com a chegada da pandemia, governo, mercado e instituições internacionais voltaram a bater cabeça com novas projeções para 2020, que iam dos superotimistas 2% de crescimento do ministro Guedes, até o terrificante – 13% a.a. do FMI. Na verdade, vai dar algo em torno de -5%, que é uma brutalidade em termos de queda do PIB de um país. Mas, bem menor que a queda de países desenvolvidos. Ainda assim, vamos levar pelo menos uns 4 anos até recuperar o tombo de 2020. Isso se o governo fizer a lição de casa direitinho.

E é aí que o bicho pega. Sem a reforma administrativa, a tributária, o pacto federativo, a PEC emergencial, o aprofundamento das reformas da previdência e trabalhista, uma forte aceleração no processo de privatização e uma brilhante (e improvável) gestão fiscal, área onde não temos mais margem para errar, o país vai continuar patinando no seu voo de galinha de sempre de 1% a 2% a.a. de crescimento e sem perspectiva de mudanças de rumo.

Nessa longa lista não consta, mas acho mandatório acrescer a prioridade política para modernizar o Brasil. Dando um salto quântico qualitativo na área tecnológica nos tirando da idade da pedra das 2.0, para as tecnologias 5.0, mas, não apenas nas telecomunicações. É preciso também reindustrializar qualitativa e seletivamente o país, e operar um programa sério de recapacitação de longo prazo e outro de realocação da nossa gigantesca mão de obra desempregada para não continuarmos incompetentemente com mais de 14 milhões de desempregados (e crescendo) e a produtividade no chão.

E ainda por cima é preciso ter o povo vacinado, sem o que a economia vai andar de lado (alô, Bolsonaro! Cadê a vacinação do povo?!).

Duvido muito que superemos todo esse imbróglio. Quem nada fez em dois anos não será agora que fará em plena antecipação irresponsável da campanha presidencial. Além do mais, quando se sabe que o Presidente com sua arraigada posição reacionária em defesa de funcionários públicos, do lobby militar (e de outros lobbies), sua associação ao temerário Centrão de resultados e a visão tacanha de nada fazer para não atrapalhar sua reeleição, está levando o Brasil à bancarrota. Caminhamos para findar 2022 em situação pior que a que o PT nos legou.

Ano passado encerrei o artigo de final de ano afirmando que 2020 seria pior que 2019, um ano para se esquecer (e naquele momento, ainda não havia pandemia). Este ano infelizmente a viola vai continuar tocando música fúnebre.

Pelo andar da carruagem, 2021 será igual ou pior que 2020.

Sinto pela projeção.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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