colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

2020: atípico, ingrato e mortal para o brasileiro

21/12/2020 - 13:34

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A COVID, Bolsonaro e o Brasil - Nos primórdios de 2020, o mundo foi impactado pela covid-19. Sua chegada em março ao Brasil logo fez Bolsonaro intuir o estrago que iria provocar na economia e na sua sonhada reeleição. Daí a começar sua guerra negacionista-interesseira-fraticida contra tudo e todos que se colocaram ao lado da ciência e da vida (macaqueando seu ídolo Donald Trump), foi um pulo. É o responsável pelo país ser “vice-campeão” mundial em óbitos pela covid-19. Nessa conta macabra só perdemos para os EUA.

O mundo já entrou na segunda onda. No Brasil mal reduzimos significativamente a primeira e já engatamos a segunda. Com o atual “liberou geral” de Bolsonaro e governadores, corremos o risco de superar os patamares do pico da primeira onda pandêmica. Tragédia em cima de tragédia, às portas da vacinação (que o presidente quase criminosamente boicota).

O golpe frustado – Se havia dúvidas sobre a natureza golpista do presidente, a pandemia incumbiu-se de eliminar. Bolsonaro e seus extremistas, aproveitando a crise sanitária e o estupor do povo, ensaiou um golpe sob a inércia de parte do estamento brasileiro. A atitude corajosa do ministro Alexandre Moraes do STF enquadrando-o, foi decisiva para sustar a tentativa insana. Mas é preciso ficar atento. Seu latente golpismo e o criminoso uso e
destruição das instituições para defender corruptos da família são gatilhos a serem observados.

O ministro fora dos trilhos - Em janeiro, o ministro Paulo Guedes desenhava um cenário de brigadeiro para 2020 embora os números teimassem em indicar mais um ano de voo de galinha. A pandemia livrou a sua cara (os resultados do primeiro trimestre foram pífios, mas abafados pela covid-19). Começava a saga negativa do ministro este ano. Boicotado pelo presidente, viu se esvairem as chances das reformas estruturantes; sem forças
para levar à frente às privatizações, viu a montanha de 1 trilhão de reais por ele prometida parir um rato de menos de 10% daquele valor; seu plano emergencial foi desmoralizado pelo Congresso e Bolsonaro, a dívida e o PIB do país explodiram, os investidores fogem do país... 

Perdeu um tempo enorme para ajudar financeiramente pequenos e micros empresários e viu quase 1 milhão deles fecharem as portas definitivamente; tentou emplacar o tal de plano Brasil como substituto do auxílio emergencial e engatou no meio uma reforma meia boca que tinha como carro chefe a volta da CPMF. Foi desautorizado publicamente pelo presidente. Guedes começou o governo como superministro de um presidente despreparado, tornou-se um pequeno polegar incômodo ao chefe. 2021 será ainda mais difícil para ele.

O eterno inferno astral do Brasil - O exemplo vexaminoso que estamos dando ao mundo durante a covid e agora na pré-vacinação é algo lamentável. Mas não isolado. Como sempre, estamos sempre ficando para trás em relação ao mundo. No final do século XIX fomos ultrapassados pelos EUA; na década de 50 os países europeus destruídos na Segunda Guerra nos atropelaram; a partir dos anos 60 foram os tigres asiáticos a fazê-lo e, nos anos 90, nossos parceiros dos BRICs. Estamos sempre ficando na rabeira. Triste sina desse país de cleptocratas.

Desgovernança - Com as rarefeitas exceções de sempre, o retrato fiel da governança desse país foi sempre o de um poder Executivo corrompido e ineficaz; um Judiciário próprio de uma republiqueta de bananas, políticos de quarto mundo focados em seus interesses espúrios e um empresariado anacrônico, insaciável sorvedor de verbas estatais e socialmente insensível. Uma nação com esse perfil de governança pode dar certo?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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