colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Coronavírus: os prós e os contras da vacina da covid-19

01/11/2020 - 11:44

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R7
Vacina contra covid-19
Vacina contra covid-19

O mundo inteiro aguarda ansioso pela vacina contra a covid-19. Qualquer uma, independentemente da origem e, no caso do Brasil, da criminosa opinião do presidente da República contrária à vacinação. E essa expectativa tem sido uma das principais razões para o afrouxamento das medidas preventivas, sobretudo entre os jovens, e uma das razões pela persistente demora na inflexão da curva de infectados no Brasil, diferente de todos os demais países do mundo.

A boa noticia é que pelo que se depreende, no início do próximo ano, teremos finalmente vacinas, no plural mesmo, oriundas de vários países. A primeira má notícia é que elas não estarão disponíveis rapidamente para todo o mundo, afinal somos 7,5 bilhões de pessoas, grande parte em países paupérrimos dependentes de doações e da ação da OMS e de outras entidades do terceiro setor para fazer chegar a elas a medicação. Estima-se em até 2 anos para que a vacina tenha alcançado a todos. 

A segunda má notícia é que as vacinas iniciais que chegarão ao mercado não terão a plenitude de suas capacidades imunológicas. Explico, uma vacina, qualquer vacina, pode impedir que uma pessoa se contamine, ou se ela vier a ser infectada, melhorar as possibilidades de que o vírus se torne assintomático, ou provoque apenas sintomas leves, similares ao de uma gripe. Essa mesma vacina pode ser mais efetiva nos jovens, ou nos velhos na população em geral, por exemplo. Tudo depende do escopo da pesquisa a que a empresa desenvolvedora se proponha a realizar.

E é aí onde mora o problema: para medir cada um daquelas possibilidades acima (existem inumeráveis outras possibilidades que não estão sendo aqui consideradas), a duração da pesquisa e dos estudos e o tamanho da amostra (voluntários) irá se alterar substancialmente quanto mais detalhada ou aprofundada, venha ela ser.

Os dados a seguir foram fornecidos pelo biólogo Fernando Reinach, em artigo publicado no ESTADÃO. “Em estudo que dure seis meses e os vacinados estejam em um ambiente em que ocorram 0,12 infecções por dia em cada grupo de 1.000 pessoas (como durante o pico de casos na Inglaterra) são necessários 1.880 pessoas para verificar se a vacina diminui a taxa de infecção. Para saber se a vacina altera o número de casos sintomáticos são necessários 3.154 voluntários e para saber se altera a mortalidade são necessários incríveis 619.130 voluntários”. 

E ele continua: “Esses números são para pessoas de 20 a 29 anos (nas quais a letalidade é muito baixa). Mas se o estudo deseja determinar o efeito da vacina sobre letalidade entre pessoas de mais de 80 anos o número cai de 619 mil para 24 mil voluntários. Esses números são válidos para um ambiente onde a taxa de contaminação é muito alta”. 

A pressão por uma vacina levou os laboratórios a acelerarem o passo (uma vacina leva em média 4 anos para se desenvolver e estar apta para o mercado), levando os estudos da fase 3 apenas à definição se a vacina reduz ou não o número de infectados. E apenas isso. Não será possível projetar estatisticamente se as pessoas vacinadas terão sintomas zero, casos leves ou até mesmo irem a óbito. Essas informações só estarão efetivamente disponíveis daqui há 1 ou 2 anos. Sem esquecer que exceto uma delas, todas as demais vacinas exigirão duas doses.

Uma vacina com estudo completo assegura em 95% o sucesso no combate ao problema a que ele se destina. As vacinas que serão postas à disposição no início do próximo ano devem garantir a redução em 50% da possibilidade de uma pessoas vir a ser infectada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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