colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Ô mundo desigual, tudo é tão desigual

31/08/2020 - 13:37

ACESSIBILIDADE


Gilberto Gil compôs a sempre atual “A Novidade”, sucesso na interpretação do Paralamas do Sucesso cujo refrão pontua “ô mundo desigual, tudo é tão desigual, de um lado este carnaval, de outro a fome total”, para falar de desigualdade em um país viciado em desigualdade desde seus primórdios. É quase como mexer num vespeiro de abelhas africanas assassinas.

Funcionamos por aqui na base do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. E os resultados estão à mostra. O orçamento público engessado para pagar salários a funcionários públicos que prestam um dos piores serviços do mundo; a maganos da política, uma das atividades mais corruptas neste país, e a um judiciário que há muito deixou de representar a justiça que a Nação merece e espera. A corrupção também campeia nas prefeituras e nos governos estaduais. Uma tragédia que empobrece o povo e envergonha a Nação perante o mundo.

O despautério da desigualdade é tal que, do lado privado, apenas 6 pessoas concentram, juntas, a mesma que riqueza que os 100 milhões de brasileiros mais pobres. É preciso ir mais longe? Se o leitor desejar, podemos também ressaltar que, mantidas as condições atuais, as mulheres somente alcançarão a mesma (baixa) remuneração dos homens em 2047, enquanto os negros só terão salários equiparados aos brancos em 2089. E o brasileiro fazendo cara de paisagem a esse quadro dantesco. 

Aceitar e conviver com essa avassaladora realidade é o que atrasa nosso crescimento, interdita o futuro da Nação, impede as pessoas de crescerem e embica o país num torvelinho sem fim de privilégios e exceções que só ampliam nossas disparidades sociais.

A pandemia que estamos vivenciando em seu pico (que não acaba) rasgou o resto do véu que encobria o tamanho dessa ignomínia. De repente “descobriu-se” 65 milhões de brasileiros precisando do auxílio emergencial para sobreviver. No Nordeste são 63% dos domicílios. 

E não se fala de desigualdade e iniquidade social neste país sem a inserção do Nordeste na discussão. Secularmente relegado pelos governos centrais e explorado pelos “donos” políticos ou empresariais da região, este pedaço do Brasil é “campeão” em tudo: da menor renda média per capita do país, do maior número proporcional de desempregados, subempregados e desocupados, do maior número de analfabetos e analfabetos funcionais, da maior defasagem estrutural do SUS, da menor produtividade da mão de obra, dos maiores índices de violência...

Tem mais, a população nordestina equivale a 26% da brasileira, mas o PIB da região é de tão somente 14% do PIB nacional. Pior, entre 2017/2019 cresceu menos que o PIB brasileiro, que não passa de uma média de 1% há 40 anos. O Nordeste no pós covid-19 vai penar ainda mais.

O Brasil já viu fechar 1,3 milhão de empresas, a maior parte de pequeno e micro porte. No Nordeste foram 206 mil empresas e das que estão conseguindo sobreviver, 63% afirmam estar sofrendo forte impacto negativo em suas atividades. A região, frágil economicamente e dependente de transferências de recursos do governo federal quebrado e focado em outras prioridades, precisa se preparar para os próximos 5 anos de muita, muita dificuldade. 

Mas não se percebe nos “líderes” políticos e em certa elite empresarial da região qualquer iniciativa nesse sentido. Na verdade, insistem na cantilena de ludibriar a população com falsas promessas irrealizáveis enquanto se refastelam na festa do desperdício do dinheiro público, malversado ou pessimamente aplicado. A desigualdade na região vai se acentuar ainda mais.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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