colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Debandada

17/08/2020 - 13:13

ACESSIBILIDADE


Com a equipe se esfarelando - já perdeu sete dos seus membros nos últimos 60 dias e outros dois estão com o pé fora – o ministro Guedes foi obrigado a admitir a debandada em seus quadros. E isso tem um simbolismo grande: é o fim da tentativa de implantação do liberalismo econômico como política de governo, mesmo com a ainda presença de Guedes no governo.

A saída dos sete está ligada à insatisfação com a nova vertente gastadora do governo, com a descoordenação do trabalho no âmbito do ministério e à perda de confiança na condução do chefe, o ministro Paulo Guedes. Ninguém fala isso, claro.

Para Bolsonaro, Guedes foi uma conveniência de campanha, como foi Moro, simples assim. O ministro da Economia vem sendo seguidamente desautorizado por Bolsonaro desde a reforma da Previdência parcialmente aprovada depois do esforço pessoal do presidente da Câmara dos Deputados e do Congresso, já que o presidente jogou contra todo o tempo. 

A chegada da covid-19 ao país, aliada aos parcos resultados obtidos pela economia no primeiro ano do governo, mostrou um ministro acuado e reticente na formulação e implementação de programas de ajuda às pessoas e empresas.

Escapou da ridícula proposta de ajuda emergencial de 200 reais às pessoas pela proposta vencedora de 600 reais originada do Congresso. Mas não se livrou do fracasso da ajuda a micros e pequenas empresas que está levando à quebradeira milhares delas. 

Para salvar o pescoço, o “novo Guedes” busca agora desesperadamente viabilizar recursos para o tal Renda Brasil, uma bolsa família melhorada que vai ajudar na penetração do presidente nas camadas mais pobres, já que vem perdendo apoio de ricos e da classe média. 

O ministro “esqueceu” dos compromissos liberais e batalha para emplacar um aumento de impostos via CPMF com outro nome, tentando fabricar dinheiro à custa dos brasileiros quebrados pela pandemia da covid-19 para bancar a gastança que se prenuncia para os próximos 2 anos do governo Bolsonaro. Que embora continue jurando “fidelidade” aos projetos de Guedes, namora abertamente a turma da gastança de olho na sua reeleição. 

A reforma administrativa não sairá. Bolsonaro não quer. O teto de gastos, apesar de todas as juras contrárias, vai virar pó, as privatizações previstas de 1 trilhão de reais viraram um traque, a economia do país vai sofrer um tombo gigante de 6% do PIB este ano e, até o momento, não há indicações sérias de como vamos sair dessa. O caos se aproxima a galope.

Guedes ainda não caiu porque Bolsonaro já entendeu que não pode se indispor com o mercado que o apoiou nas eleições e não quer assumir o risco de criar marolas para sua campanha reeleitoral. Suas declarações recentes de que “nosso norte continua sendo a responsabilidade fiscal e o teto de gastos" tiveram endereço certo: a Avenida Paulista. Mas é só da boca pra fora.

Guedes vai sair – mais cedo ou mais tarde – com a pecha de incompetente, afinal nada do que prometeu aconteceu e ainda por cima agora se veste de desenvolvimentista e passa a defender uma iconoclastia do ponto de vista liberal: o aumento de impostos.
Uma lástima.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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