colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

As pesquisas, Bolsonaro e os 'analistas'

16/08/2020 - 13:22

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O brasileiro médio há muito tempo está ciente das estripulias praticadas pela maior parte dos institutos de opinião pública deste país quando o assunto é política ou eleições. Não foram poucas as eleições em que somente no dia da votação os institutos mostraram os números verdadeiros (para não falar da enormidade de pleitos em que os erros alcançaram até mesmo a boca de urna). Tudo com a sua devida “explicação” técnica, claro...

O mais novo esporte brasileiro nessa seara é o desempenho do presidente Jair Bolsonaro nas pesquisas de opinião, no caso, mais especificamente, na última pesquisa realizada pelo Datafolha que capturou um sensível crescimento na sua popularidade, para desespero da maior parte dos “analistas” políticos deste país, a maior parte “viúvos e viúvas” do PT que teimam em esconder as matizes e as nuances dos números apresentados e que qualquer aprendiz de jornalismo político ou analista político deveria ter obrigação de saber.

Recém-eleito, a popularidade de Bolsonaro medida na época da sua posse andava na casa dos 64% entre aqueles que achavam que seu governo iria ser ótimo ou bom, segundo o IBOPE. O Datafolha mediu na semana passada que esse número é hoje de 37%. Uma queda, portanto, em relação a dezembro de 2019 da ordem de 27 pontos percentuais.

Em segundo lugar, todos eles sabem que, mesmo um governo destrambelhado como é o caso, detém cerca de 20% a 25% de apoiadores (quando a coisa começa a cair desse patamar é bom ir preparando a mala por que a tendência é – caso Dilma e caso Temer – ver os apoios minguarem para números inexpressivos na casa dos 10%). De onde se conclui que índice de apoiamentos ótimo/bom na casa dos 37% como os atuais, ainda estão muito longe de assegurar ao governante tranquilidade eleitoral, mormente, dois anos antes de uma eleição por onde ainda vai passar muita água de cachoeira.

Em terceiro lugar, embora a turma da Avenida Paulista e certos analistas econômicos pretendam nos colocar em outros patamares, o Brasil é um país pobre, com uma renda per capita indecente para seu potencial e uma população de miseráveis que nesta pandemia aflorou de forma brutal para a sociedade sob números trágicos: 65 milhões de brasileiros (1/3 da população) dos quais 60% do Norte e do Nordeste estão recebendo o auxilio emergencial de 600 reais. Se alguém tem alguma dúvida de onde veio o crescimento da popularidade do presidente na última pesquisa é porque é um analfabeto político.

Em quarto lugar, e não menos importante, a súbita mudança do rumo golpista que Bolsonaro vinha ensaiando e a nova “persona” política mais suave que ele assumiu para consumo público, também foi fator relevante na volta de alguns apoiadores que haviam se afastado por conta da virulência que o governante vinha tentando imprimir como forma de governar.

Um quinto ponto que também não se pode deixar de assinalar para a resiliência de Bolsonaro reside no medo da população da volta dos vermelhos ao poder. E como até agora (e isso vem desde a eleição passada) ninguém apareceu para ocupar o vácuo de centro direita que dê à população temerosa do petismo e dos seus satélites, a tranquilidade necessária para fazer migrar o seu voto da extrema direita, o presidente vai continuar “reinando” sozinho nessa faixa do espectro eleitoral.

A leitura – equivocada – dos analistas enfatiza o quase criminoso desempenho presidencial durante a pandemia, sua guinada para o Centrão (não esqueçamos que os parlamentares do grupo foram eleitos pela população...) e sua eterna fome de cargos e de escândalos, sua agenda conservadora, sua posição armamentista, a terrivelmente incompetente condução da questão ambiental, a proteção dos filhos enrolados em “rachadinhas” e outras menos vistosas, como fatores principais para a surpresa com os números do seu crescimento.

Não é por aí que banda toca. Mesmo que cause indignação e revolta, o povo no fundo sabe que político brasileiro é tudo farinha do mesmo saco, daí o que lhes interessa mesmo sobreviver, em tocar a vida sem maiores sobressaltos. A calibragem do discurso do presidente, o redesenho parcial da sua imagem e o auxílio emergencial já foram o bastante para ele acalmar os reticentes e “acolher” os desesperados e crescer nas pesquisas de opinião. 

O verdadeiro teste deste governo passa pelo que vai acontecer neste país nos próximos 6 meses. Se o governo conseguir minimizar a brutal crise que se desenha, Bolsonaro consolida sua candidatura. Se não, ele ainda assim conta com a incompetência dos políticos deste país em viabilizar um adversário à altura de competir com ele e tirar-lhe os votos da centro-direita que o estão levando ao segundo turno.
E a continuar a surfar nas pesquisas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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