colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Samba do crioulo doido

06/08/2020 - 10:27

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John Locke considerado o “pai” do liberalismo, pregava que o conceito filosófico liberal deve estar centrado no contrato social lastreado em três pilares: o direito natural à vida, à propriedade e à liberdade e que aos governos cabe assegurar a não violação de tais direitos.

O liberalismo pressupõe igualdade de gênero e racial, democracia, liberdade de expressão, de imprensa e religiosa, direitos individuais e um ideário econômico que defende a livre concorrência e a limitação da ação governamental a áreas estratégicas. Liberais se opõem ao socialismo, ao comunismo, ao absolutismo monárquico ou às ditaduras. Defendem a democracia representativa e o Estado de direito.

O ideário pode ter entendimentos diferentes em alguns países ou continentes. Nos EUA está mais ligado ao Welfare State do programa Nem Deal de Roosevelt, portanto, ao Partido Democrata. Na Europa passa mais pelo conceito francês do Laissez-Faire e por compromissos econômicos vinculados a Estados limitados, como na Inglaterra. Justamente o que defende o Partido Republicano americano, onde se posicionam os liberais-conservadores.

Embora com escolas variadas, em suma, o liberalismo prega a abertura dos mercados, o estímulo à livre iniciativa, a diminuição do tamanho do Estado e o controle do gasto público. Na América Latina, apenas o Chile tem avançado no liberalismo e os resultados econômicos já se fazem sentir em menos de 3 décadas (já é a maior renda per capita da região) embora algumas questões sociais precisem ser ajustadas. Nada que ajustes pontuais no modelo não resolva.

E por que estamos falando disso? Vamos juntar dois fatos que estão acontecendo agora. O primeiro diz respeito a uma dessas subcelebridades instantâneas produzidas pelas redes sociais, o “novo pensador” latino-americano, o jovem Felipe Neto que andou falando um monte de asneiras para criticar o liberalismo. Que, acho, ele sequer sabe o significado morfológico da palavra.

E o outro fato: o indiscutivelmente liberal Paulo Guedes, que agora esgrime argumentos indefensáveis para querer provar que a CPMF que ele está propondo não irá aumentar impostos e pior, que não é cumulativa! Uma iconoclastia vinda de um liberal de carteirinha. Mas esse é o retrato fiel do Brasil.

Os dois fatos são bem ilustrativos disso. Quando alguém, como Felipe Neto, que não sabe sequer onde o sino está a tocar, passa a arrotar “análises” vaticinando a falência do liberalismo (sic) ou, ainda pior, quando Guedes, um liberal bem formado passa a defender o aumento do Estado (aumentar impostos é isso, em regra) e a penalizar o individuo, algo anda bem errado por estas paragens.

O que reflete bem a realidade brasileira. De um lado o analfabetismo político da população (representada por Felipe) e do outro, a enorme relutância das elites políticas (representada por Guedes) em promover as mudanças que o país precisa (que irão afetar diretamente aos seus interesses patrimonialistas).

O que permite a espertalhões - como acontecido na última eleição presidencial - se apropriarem indevidamente do conceito para se vender como liberal. Algo absolutamente distante do milicianismo militante, das rachadinhas recorrentes, do indisfarçável militarismo salvacionista que o impregna, ou da sua longa permanência como parlamentar do Centrão.

Estamos vivenciando um momento típico de samba do crioulo doido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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