colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O SUS precisa ser valorizado

05/08/2020 - 09:09

ACESSIBILIDADE


De repente o Brasil acordou para a importância do SUS no contexto da saúde pública. A pandemia da COVID-19 mostrou com clareza que, mesmo com as meizinhas de sempre, como a crônica falta de tudo, ainda assim foi ele que salvou a pele de muitos políticos que ao longo do tempo tão somente sugaram todas as energias possíveis do gigante da saúde brasileira.

Embora ainda no auge da pandemia por aqui, já se percebe o arrefecimento do discurso pró-SUS no seio daqueles que de fato podem e vão decidir o futuro da saúde brasileira. Toda a conversa gira apenas em torno das alternativas de saída econômicas para a brutal crise que se desenha no horizonte brasileiro.

Diferentemente do lobby da educação que conseguiu a façanha de enfiar goela abaixo do país mais um mostrengo que vai atrasar a educação nacional em pelo menos 5 décadas, dada sua versão pró mais (muito mais) recursos para o setor quando o problema é bem outro, a melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem, o SUS não conta com um lobby profissional e de peso para fazer valer sua posição enquanto agente direto de atendimento a 75% da população que não tem acesso a planos de saúde.

Se nada for feito para mudar essa realidade, vamos continuar a ver o triste espetáculo protagonizado por milhões de pessoas demandantes dos serviços do gigante, mas sem conseguir acesso a tempo e a hora (O SUS tal qual está estruturado atualmente mal dá conta de atender a 1/3 da sua demanda). 

Por outro lado, o SUS padece de problemas estruturais de toda ordem, como, por exemplo, a enormidade da defasagem entre os custos reais dos serviços prestados pelos profissionais da saúde para qualquer procedimento e os valores efetivamente pagos pela entidade através da sua tabela de remuneração é um enorme óbice para qualquer avanço. 

Não se pode achar razoável que uma consulta seja remunerada por 10 reais, ou o tratamento de um AVC seja parametrizado em 64,4 reais, ou que 57,4 reais para um tratamento de cirrose hepática com o paciente internado seja um valor razoável. (Os valores aqui citados se referem a 2015, mas são atuais, quase nada foi reajustado adequadamente de lá para cá). Se comparados à tabela CBHPM a defasagem alcançava em 2015, nada menos que 1.284%!

O mesmo acontece em relação à remuneração dos hospitais com leitos SUS.

São dados que não podem novamente voltar para debaixo do tapete se, de fato, houver vontade política de se resolver aquele que talvez seja o maior dos problemas para pobres e remediados: ter acesso a um serviço de saúde de qualidade e sem a eterna demora que tantas vidas já ceifou. 

E não se pode deixar de anotar que o SUS com todos os seus problemas atuais é o maior programa universal de saúde, reconhecido inclusive pela OMS, é também o maior programa público de transplantes de órgãos do mundo, é ele que sustenta a vida de 900 mil soropositivos com a distribuição gratuita de coquetel antiviral, é ele que também executa o maior programa de imunização do mundo com mais de 300 milhões de doses de vacinas a cada ano. 

O SUS precisa ser cuidado, é um bem público que precisa ser valorizado e protegido. O que não vem acontecendo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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