colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

As forças ocultas que controlam recursos federais

04/08/2020 - 10:31

ACESSIBILIDADE


Trabalhei em Brasília nos idos anos de 1980 e 1990 primeiro como diretor de uma empresa do Governo do Distrito Federal e em seguida no alto escalão do Ministério da Agricultura (passei um tempo também na Câmara Federal). Estou relatando isso por que me lembrei de um crime ocorrido à época em plena luz do dia no centro de Brasília envolvendo um famoso jornalista local que “ousou” mexer no vespeiro mafioso que sempre dominou os recursos do Ministério da Saúde.

Estamos acostumados a por o dedo na ferida dos políticos que povoam a Capital do Brasil, nos togas pretas que travam lutas colossais por vagas mais “importantes” no cenário dos tribunais superiores, na incompetência do funcionalismo público, no compadrio que povoa todas as relações de poder, do mais alto ao mais reles cargo, e por aí vai.

Mas quase nada se fala de poder paralelo exercido por gangues do colarinho branco, muito bem organizadas (e violentas, como vimos, se seus espaços forem invadidos), sedimentadas há dezenas de anos em seus redutos nos diversos ministérios e órgãos públicos federais, cuja influencia se transporta aos Estados e municípios brasileiros (que só conseguem liberar recursos se “pedirem a benção” a esses grupos poderosos, mas invisíveis, que dominam a máquina federal). Talvez por medo (ou seriam outras coisas?) a mídia passa ao largo desse tema.

Na pandemia, a realidade da crise juntou a fome com a vontade comer dos dois grupos e vimos pipocar Brasil afora um monte de escândalos que, segundo a polícia federal apurou até agora já supera a casa dos 4 bilhões de reais (que eu acho pouco). Governadores, secretários de saúde, prefeitos envolvidos estão sendo responsabilizados. Mas nada se fala dos “invisíveis” grupos poderosos e influentes que controlam os cordéis da liberação dos recursos...

Dinheiro que seria destinado a minimizar os problemas estruturais da rede pública de saúde durante a crise nos Estados e municípios foi desviado, roubado, por autoridades estaduais e municipais e grupos encastelados em Brasília. Foram equipamentos comprados sem licitação a preços muito vezes superiores aos de mercado, construção de hospitais de campanha desnecessários, medicamentos superfaturados, serviços pagos a peso de diamante e toda sorte de falcatruas que se possa imaginar. O butim continua. 

Enquanto isso, os heróis da linha de frente do combate ao vírus em vários Estados sofrem atrasos de dois, até três meses nos seus pagamentos. Arriscam suas vidas diariamente e veem suas famílias passar necessidades em casa por falta do dinheiro não recebido.

E pacientes morrem por falta de equipamentos respiradores, de medicamentos, da contaminação dos ambientes hospitalares, pela falta de EPIs para os profissionais da saúde que são obrigados a arriscar suas vidas e dos pacientes com equipamentos inadequados ou super utilizados. Uma tragédia dentro da tragédia. Que somente quem convive de perto sabe o quanto essa situação já ultrapassou a muito o limite do razoável.

Enquanto isso, o general que comanda o Ministério da Saúde na pandemia (sic) sentado em cima de 60% do dinheiro não liberado para o combate à covid-19 se vangloria de que o roubo acabou na sua seara. Basta ver os processos que estão rolando Brasil afora contra gestores diversos por malversação para se saber que é mais uma balela desse governo negacionista.

Se a ideia fosse reduzir as falcatruas no âmbito da saúde, deveria então o Ministério liderar as compras e distribuir os equipamentos e materiais para uso pelos Estados e municípios. Coisa que não vem sendo feita em nome da obediência cega e irresponsável do titular da pasta às ordens desarrazoadas do presidente da república em sua marcha insensata rumo ao precipício genocida que está acontecendo no país.

Pobre Brasil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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