colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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A venda da Braskem e o redesenho estratégico de Alagoas

03/08/2020 - 09:02

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Nesta semana a Odebrecht teve aprovado pela Justiça de São Paulo o seu plano de recuperação judicial que envolve recursos da ordem de R$ 100 bilhões. O fato acionou na empresa o sinal verde para a venda da Braskem, “a joia da coroa” do grupo, como parte do programa de reestruturação financeira. 

A Odebrecht detém 50,1% do capital votante da empresa, a Petrobrás tem 47% e os 2,9% estão pulverizados entre acionistas minoritários. Seu valor de mercado está avaliado em US$ 19 bilhões, mas a Odebrecht estima vender sua participação por cerca de R$ 17 bilhões ou cerca de US$ 3,1 bilhões. A ver.

A venda da Braskem não é definitivamente uma operação trivial. Muito ao contrário, antes disso acontecer a empresa terá que equacionar problemas de toda ordem, por exemplo:

1) O enorme passivo ambiental e criminal perante os governos federal, estadual, de Maceió e com a população residente nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto (cerca de 12 mil famílias, embora a companhia e, estranhissimamente a Defesa Civil da capital, esgrimam argumentos para reduzir esse número) decorrente da aceleração da subsidência da região fruto de exploração inadequada, para dizer o mínimo, das minas de sal-gema.

A coisa é tão séria que no momento ninguém sabe informar onde foram parar duas dessas minas; o tráfego ferroviário na região foi suspenso e a retirada das famílias das áreas de risco iminente acelerada transformando aprazíveis bairros em fantasmas no coração de Maceió.

2) Com o mercado de resinas em baixa e excesso de oferta pelo menos nos próximos dois anos, o “apetite” dos compradores anda meio rarefeito (o segmento da Braskem é um oligopólio global com número bem restrito de potenciais interessados no negócio). 

3) Outra questão em estado latente que terá que ser resolvida antes da venda é a transferência do parque industrial da Braskem do coração de capital (onde ameaça diretamente de morte mais de meio milhão de pessoas) para outra área mais segura. 

4) É inexplicável que Alagoas continue a renovar indefinidamente há mais de 40 anos os subsídios concedidos à empresa. Isso faz da Braskem um caso único de exploração da maior riqueza mineral de um dos Estados mais pobres na Federação sem nada pagar por isso.

Como se vê, são temas de alta octanagem e óbices de grande porte que a empresa terá que enfrentar. Sem condições mínimas qualquer transação não se materializa.

Por outro lado, Alagoas não pode perder de vista o momento estratégico que a debacle da Odebrecht oportuniza para reposicionar o Estado na exploração do sal-gema, incluindo nisso, o compromisso da controladora da Braskem de transferir as indústrias de segunda geração que deveriam estar aqui, mas nos foram tomadas na mão grande dos interesses baianos da companhia, como também a reinstalação da sede da empresa no Estado.

São mais de 40 anos de alta exploração que deram no que está dando. Chega. A classe política local, despreparada e uma das mais corruptas do país (tem suas raras exceções, claro) precisa exercer seu papel – uma vez na vida – e fazer algo de bom e consequente pelo Estado. A próxima eleição será um bom momento para se saber quem está de fato com Alagoas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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