colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O papelão do Ministério da Saúde

02/08/2020 - 12:20

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Sou defensor do Estado mínimo em todas as suas vertentes. Mas, também, entendo que determinadas funções e atividades devem e precisam estar sob a órbita estatal. A saúde pública é uma delas. Mas num modelo que contemple a cobertura universal mista onde a iniciativa privada se insere não como complemento, mas como parceira no atendimento que o Estado, o SUS, nunca teve condições ou qualificações para exercitar seu mister.

Mas isso é assunto para outro momento.

Quero me ater hoje ao papel desempenhado pelo ministério da saúde do Brasil na epidemia da covid-19 que crassa por todo o país ceifando vidas úteis, paralisando a atividade econômica, desempregando pessoas, ampliando o fosso entre ricos e pobres. 

O MS órgão gestor da saúde pública brasileira de tantas e heroicas campanhas em prol da saúde da população deste país está passando – certamente – pela sua mais anômala administração. Cinzenta, ambígua, ausente, incompetente em resolver as demandas do país num momento tão critico como o atual.

A Nação estarrecida, mortificada e ameaçada diretamente por um vírus letal, assiste parva o dantesco espetáculo da negação enviesada, as tentativas de malversar dados da epidemia, a não liberação de recursos para Estados “inimigos” (sic) do presidente da república, a artificial anomia em ajudar Estados e municípios retendo recursos destinados a compra de materiais e equipamentos para os hospitais e as pessoas da linha de frente do combate à covid-19, a obediência cega de um general-ministro às ordens desarrazoadas do presidente da república. 

É a falência do mais importante órgão de saúde pública do país, transformado em um monstrengo amorfo e sem função, justo no momento que o Brasil, os brasileiros, mais precisa dele.

O papelão que o ministério da saúde está fazendo nesta epidemia ficará registrado nos anais da história como uma das mais vergonhosas fugas de suas responsabilidades praticadas por um órgão público do governo brasileiro
O MS de caso pensado, deixou de liderar a coordenação das atividades dos diversos entes públicos e privados envolvidos com a saúde no Brasil e passou a ser uma mera caixa de ressonância das arbitrariedades e impropriedades do presidente da república, um negacionista empedernido, defensor de profilaxias sabidamente inócuas para combater o Coronavírus e defensor do “vale tudo” da abertura da economia sem se importar com os custos sociais que isso implica, desconsiderando o papel central da União na gestão coordenada da atual crise sanitária. 

Em edital o jornal O Estado de São Paulo anota “É fácil imaginar a frustração dos técnicos do Ministério da Saúde diante das travessuras do chefe de seu chefe. A despeito disso, como mostram os recém-revelados documentos do Centro de Operações de Emergência, esses profissionais não deixaram de fazer seu trabalho, advertindo o ministro da Saúde sobre os riscos de continuar a agir como Bolsonaro. Resta torcer para que não desistam, pois disso depende salvar as vidas que o presidente da República tanto despreza”.

O nível do debate público das discussões em torno da forma mais adequada de se enfrentar a presente situação do ponto de vista da saúde poderia estar em outro patamar, pautado em argumentos divergentes, porém no mais alto nível.

Certamente as medidas tomadas teriam outra conotação que não apenas a da tentativa de dominar a narrativa. Não importa se verdadeira ou não. E o país poderia já estar hoje respirando outros ares em termos do domínio da epidemia em nosso território. 

Não é o que vem ocorrendo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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