colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A heroica resistência de um gigante ferido

30/07/2020 - 10:39

ACESSIBILIDADE


Definitivamente, até por questão de filosófica, nunca estive, certamente, dentre os mais entusiastas do SUS – Sistema Único de Saúde brasileiro. 

Sempre achei que é muito mais barato, simples e tecnicamente melhor para o paciente se a iniciativa privada estivesse na linha de frente da condução da saúde no Brasil.

Que um simples programa que bancasse “vauchers da saúde” para a população utilizar de acordo com regramentos bem amarrados e definidos seria muito mais fácil que uma espera de 2 anos por uma simples cirurgia eletiva, ou de seis meses para uma consulta de 3 minutos com um especialista que sequer olha para o paciente nesse exíguo período de tempo.

Que seria muito mais produtivo que a própria iniciativa privada investisse em equipamentos, materiais e serviços e por isso fosse remunerada acabando com a “peste endêmica da corrupção do SUS”.

Que seria mais prático que o empresariado tocasse seus hospitais dentro de regramentos privados muito distante da brutal burrocracia (com dois erres mesmo) que infelicita a vida de todos que dependem do gigante mal tratado e subfinanciado.

Continuo achando.

Mas não posso deixar de me vergar à realidade que a pandemia da covid-19 trouxe a tona em relação ao SUS, o gigante mal tratado que – mesmo com o diagnóstico de sucateamento, da falta de tudo, desde luvas, álcool gel ou máscaras para as pessoas da linha de frente ou até um simples medicamento para dor de cabeça em 56% das suas unidades, vem se saindo galhardamente muito bem nesta epidemia que grassa em nosso país.

Subfinanciado e com um corte em seus recursos a partir do governo Dilma da ordem de 30%, déficit de mais de 18 mil leitos hospitalares além de obrigado a bloquear 16% dos leitos disponíveis por falta de profissionais (10%) ou porque os equipamentos disponíveis são muito antigos ou oferecem perigo ao paciente (6%), o SUS sempre vinha convivendo cada vez mais com a agudização da sua superlotação (sempre negada unanimemente por dirigentes políticos de todas as colorações partidárias) fruto da demanda de 75% da população brasileira.

Esse quadro muito ruim, mas que não se resume apenas nisso. Na verdade é a ponta do iceberg que envolve quadrilhas especializadas que há décadas e instalaram na cúpula do Sistema e corrompem, roubam e até matam em defesa do seu butim.

Pois bem, o SUS foi e está sendo o sustentáculo da linha de frente do combate à covid-19 através dos seus milhões de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, enfim, um exército coalhado de heróis que contra tudo e as condições altamente adversas (inclusive a falta de capacitação para atuar em UTI e em emergências) vem salvando vidas, milhares de vidas, muito embora já cheguemos aos 90 mil óbitos.

Que é fruto exclusivo da forma irresponsável, criminosa mesmo em alguns dos seus aspectos, de como tem sido a condução da gestão da epidemia pelo governo federal através do ministério da saúde.

Que represa os recursos financeiros destinados ao combate da epidemia (liberou cerca de 1/3 apenas até agora) pelos Estados, que discrimina Estados por seus governadores não rezarem na cartilha do presidente da república (São Paulo, Rio de Janeiro e Pará receberam o pouco que foi liberado em volume muito menor que os demais entes subnacionais).

Mais: que boicota a realização de testes (fundamentais para o estabelecimento de estratégias contra o vírus), que defende uma medicação comprovadamente inócua contra a doença, que tentou sabotar informações sobre a incidência da pandemia no país, obrigando veículos de imprensa a se associarem para poder informar fidedignamente seus respectivos públicos, isolando-o em sua nefasta anomia sanitária.

O SUS enquanto executor da politica de saúde do país está de parabéns. Comprovou sua importância, mas para funcionar de verdade no pós-pandemia requer mudanças estruturais importantes deveria focar o atendimento na atenção primária à saúde, nas crianças e nos idosos e doentes com comorbidades mais graves, liberando o “meio” os jovens e aos adultos até 50 anos para atendimento via rede privada. 

Seria a melhor forma para se racionalizar o uso dos seus recursos, reduzir dramaticamente sua demanda (que ele nunca teve condições de atender) e para prestar um serviço qualificado de saúde para quem realmente mais demanda por seus serviços.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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