colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Uma pandemia dentro da pandemia

29/07/2020 - 09:53

ACESSIBILIDADE


O Brasil tem quase 15 milhões de desempregados e 38 milhões de informais. E a conta vem para a classe média.

Dentre os brutais números que a pandemia da covid-19 revelou do Brasil, um deles assume caráter assustadoramente brutal e preocupante, pois se trata de outra epidemia – neste caso permanente, vil, desigual – a do desemprego endêmico que infelicita 15 milhões de pessoas em idade de trabalhar. Estamos falando de uma população maior que a da capital de São Paulo ou quase do tamanho de duas cidades do Rio de Janeiro, as duas maiores do país. 

E olhe que estamos falando apenas daqueles desempregados que de uma forma ou de outra estão buscando um emprego formal, já que o número de trabalhadores informais - aqueles que trabalham por conta própria ou sem carteira assinada - é muito, muito maior: alcançava em março deste ano, segundo o IBGE cerca de 38 milhões de pessoas. 

Número igual a toda a população em idade de trabalhar do Norte, Nordeste e Centro Oeste juntos. E superior aos 37 milhões de empregos formais do país.

Impactantes, mesmo assim os números ainda escondem por detrás das estatísticas, informações mais preocupantes quanto à retomada do emprego e ao enorme fosso da desigualdade existente na sociedade brasileira que continua a ser cavado rumo ao desconhecido.

Tendo como pano de fundo a projeção de uma queda do PIB na casa dos 10% no trimestre abril/junho, juntamente com a estimativa de – 6% para o ano 2020, o retraimento do consumidor ressabiado com o que vai acontecer no futuro próximo, o fim próximo da ajuda emergencial e a falta de um Norte do governo federal no tocante à condução do país no pós- epidemia, o empresariado reluta em tocar novos investimentos e até mesmo para a retomada parcial de suas atividades.

Nossa retomada se desenha longa, demorada e com perdas de empregos para o digital.

Some-se a isso o elevado grau de incertezas decorrentes do baixo impacto das medidas de isolamento social, a sustentação da alta magnitude do platô de óbitos diários (cerca de 2 meses), a expansão em ritmo desigual e profundo da disseminação da epidemia no Brasil afetando 4 vezes mais as favelas, periferias e interiores, escancarou a perversa desigualdade socioeconômica brasileira e fechamos o quadro da anomia empresarial em relação a questão do emprego.

O que, a meu ver, deveria estar preocupando – e muito - o governo federal. Os quase 50 milhões de ajudas emergenciais distribuídas pelo governo revelou o tamanho do fosso existente na Belíndia brasileira, onde os 1% de muito ricos ganham 33 vezes mais que os 50% da população brasileira considerada pobre. Um coice de mula em qualquer tentativa de explicação plausível para tal despautério.

Enquanto a empregabilidade não deslancha, a opção de mais uma vez jogar o problema para baixo do tapete, como sempre foi feita, está fora de questão. É isso ou fortes turbulências sociais. A desigualdade que dormitava anônima e passiva explodiu na cara do país sua face mais perversa. E precisa ser contida.

Resta saber como e de onde sairá o dinheiro para bancar essa impostergável medida. O governo se recusa a considerar taxar as grandes fortunas e quer por que quer emplacar uma nova CPMF para isso.

Ou seja, a opção é mais uma vez muito clara. A classe média desempregada, endividada ou com baixíssimos salários (aqueles que conseguirem sobreviver ao Tsunami da epidemia da COVID-19) é quem vai bancar a conta.

Novamente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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