colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

É TUDO MUITO LERDO, MUITO INCOMPETENTE

15/07/2020 - 10:42

ACESSIBILIDADE


No artigo anterior mostramos que a redução dos salários dos empregados e/ou a precarização do emprego  formal como a MP 396 de 1º de abril prevê não seria – de longe – a melhor solução para todos. Isso por que, o empregado teria reduzida de forma violenta a sua já precaríssima renda; as empresas (especialmente, micro, pequenas e médias que representam quase 99% do total do setor) não solucionariam o seu real problema que é a fragilidade do seu capital de giro; o governo veria a fatia dos seus impostos encolher com a queda da renda do trabalhador; Na economia o consumo que já levou um tombo enorme seria ainda mais diminuído ampliando a
dificuldade da retomada a partir de uma base muito mais precária do que normalmente já seria, se a renda do trabalhador fosse mantida.

De abril para cá cerca de 10,5 milhões de acordos foram celebrados entre patrões e empregados. Ou seja, 27% da força de trabalho formal brasileira (de 39 milhões de trabalhadores, segundo o CAGED – Cadastro Geral de Empregados e desempregados da secretaria especial de previdência e trabalhos do ministério da economia) teve sua renda reduzida, mesmo com a “ajuda” governamental de instrumentos como o seguro desemprego que leva uma eternidade para ser liberado. Enquanto a barriga, não.

Ontem, o governo reeditou a tal da MP 396 prorrogando por mais 60 dias a possibilidade da suspensão daqueles empregados que tiveram seus contratos suspensos e por mais 30 dias os que tiveram redução de jornada e de salário. Ou seja, o status quo de dificuldades e sofrimento das pessoas que estão na base da pirâmide salarial deste país vai continuar. Só que desta vez ainda pior: agora as empresas podem demitir o funcionário e  recontratá-lo com um salário mais baixo, coisa vedada na medida original. Vai ser uma festa lúgubre que precisa ser debitada a este governo.

Alguém pode estar imaginando que “aí está outro esquerdista”. Ledo engano e longe, bem longe disso. O que os principais países capitalistas do mundo fizeram no ápice de suas crises foi assumir até 75% das folhas de pagamentos das empresas em dificuldades para depois ser ressarcido por elas ou, complementar quando o caso fosse de redução de salários tendo como contraparte que o compromisso delas de não demitir ninguém.
Por aqui, o ministério da economia e, portanto, o governo brasileiro, optou por um caminho que todos os analistas econômicos deste país alertamos desde o inicio não iria dar certo, que era emprestar dinheiro via sistema bancário para que elas pudessem bancar seus custos.

O detalhe - e o diabo mora nos detalhes - é que esqueceram de combinar com os bancos que eles assumiriam o risco das operações. Deu no que deu. Num primeiro momento menos de 3% das micros, pequenas e médias empresas tiveram acesso ao crédito, e o sufoco que já era grande se exponenciou. Após outras tentativas furadas de fazer de chegar o dinheiro via bancos, o governo continua às voltas com uma demanda reprimida por crédito que supera os 90% das empresas de menor porte deste país que estão quebrando, fechando, falindo.

Não teria sido tão mais simples a solução de bancar diretamente – e por tempo determinado - um percentual da folha das empresas como fizeram, por exemplo, Dinamarca, Finlândia, Reino Unido, Estados Unidos, França?
Ou, se queriam beneficiar os bancos, triangular a operação de repasse dos recursos dos empréstimos às empresas, mas oferecendo 100% de garantias do governo federal como fizeram, vários outros países?

Certamente a situação atual seria outra. E essa é mais uma variável para complicar a equação de saída da crise - que é bom que se diga - o governo e o ministério da economia ainda não encontraram. É tudo muito lento,  muito lerdo, muito incompetente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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