colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A equação não fecha

11/07/2020 - 10:12

ACESSIBILIDADE


O ministro Paulo Guedes conquistou corações e mentes do empresariado e dos brasileiros em geral com a frase cunhada à medida na sua chegada ao governo “menos Brasil, menos Brasília”, ou seja, menos intervenção e mais reformas estruturantes para gerar emprego e renda. Mais iniciativa privada.

Seus planos ficaram no meio da estrada com o anormalíssimo governo Bolsonaro detonando todas as possíveis pontes de articulação com a sociedade, a justiça o legislativo e grande parte do empresariado (vejam a recente carta dos CEOs das maiores empresas privadas do país exigindo mudanças na postura do governo na condução de assuntos sensíveis com a questão amazônica).

Perdido no meio do tiroteio generalizado do Coronavírus, Guedes vem tendo atuação lamentável na condução financeira da epidemia. Brigado com o presidente da câmara e com os governadores por suas tentativas de centralizar – e atrasar – o repasse de dinheiro para o combate à epidemia, sem conseguir fazer os recursos chegarem aos micros e pequenos empresários que estão quebrando ou em vias disso, “prestigiado” por Bolsonaro, mas sem poder de decisão efetiva e com uma sombra sobre sua imagem ao “abandonar” Brasília se refugiando em casa por vários dias com medo de ser contaminado, o ministro vive senão seu inferno astral ou algo próximo disso.

E agora vai passar por outro teste de fogo. Com correta proposta inicial de reformar o Brasil virando pó diante da realidade da epidemia e dos milhões de brasileiros desempregados ou que estão voltando à miséria, o ministro – que é safo – deu um salto de Chicago para Londres ao dar uma guinada de 360º na proposta de condução da economia no pós-epidemia. Sai (um pouco) Friedman entra (um muito de) Keynes, que dizia que “se os fatos mudam, eu mudo também”.

Ou seja, ao tempo que vai encaminhar as reformas faltantes, como a tributária e a do governo, terá também que cuidar de assegurar um programa de renda mínima para os milhões de brasileiros do auxilio-emergencial que não terão seus empregos de volta, para os informais e o aumento do custo com a bolsa-família, garantir – neste caso, urgentemente, acesso ao crédito notadamente às micros e pequenas empresas para evitar falências generalizadas, tirar do sufoco os entes subnacionais – todos quebrados, rolar a dívida de curto prazo de (US$ 90 bi), motivar a iniciativa privada a investir – em plena crise - suprindo a incapacidade do Estado neste momento.E isso definitivamente não é trivial.

Além disso, o ministro precisa alinhar sua proposta à do presidente que está trocando de eleitorado: saem (mais ou menos) os radicais de direita e entram os novos “bolsa-emergenciais” captados do bolsa-família e engordados pelos emergenciais (política exatamente igual à dos corruptos e ladravazes petistas) e os insaciáveis políticos do Centrão, o que há de pior no Congresso Nacional. Exatamente o contrário do que Bolsonaro apregoava em campanha e no inicio do seu governo.

Cabe a Guedes agora “gerenciar” essa nova forma de governar como foco na reeleição do presidente. O certo é que as opções são mínimas. As reformas (que são imprescindíveis, demoram a fazer efeitos na economia), dinheiro novo de investidores estrangeiros em volume e capacidade para bancar um programa de tal envergadura, também não terá, reduzir de forma significativa as despesas é coisa difícil quando se junta a vontade de reeleição com a fome insaciável da “besta” dos status quo jurídico, político e do próprio executivo por dinheiro público.

Só resta arrombar a porta do cofre do tesouro (e o secretário Mansueto, do Tesouro, antevendo que é isso que vai acontecer já pediu o boné). A equação não fecha. Nem a toque de marreta. Se preparem para mais dois anos e meio de turbulências. Econômicas e políticas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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