colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Válvula de escape. Mais uma?

07/07/2020 - 09:55

ACESSIBILIDADE


É sério. Se algum extraterrestre baixasse à terra brasilis, mais especificamente em Brasília, e se dedicasse a conhecer o modus operandi dos políticos aboletados nababescamente em seus confortáveis disfarces de deputados federais e senadores para esconder o “lado negro da força” da maior parte deles, certamente ficaria estupefato.

Lembro-me do então deputado federal pela Bahia, João Alves que ficou famoso no escândalo dos anões do orçamento (anões aqui no sentido da pouca relevância dos deputados envolvidos nas falcatruas no cenário politico nacional) e também ganhador, segundo ele, de 200 prêmios de loterias (sic!) quando tentava explicar em CPI a sua riqueza inexplicável.

O deputado era famoso por sua verve e língua ferina. Por onde parava nos corredores do Congresso rapidamente se fazia uma rodinha de jornalistas, assessores, funcionários da casa e até, eventualmente, outros políticos de passagem pela casa. 

É que além de excelente contador de piadas e estórias mil sobre o Congresso, as autoridades do executivo, do judiciário e os congressistas, sua digamos assim, “especialidade” eram as trambicagens de cada um daqueles que ele - deputado que era desde a década de 1960 – conhecia a fundo.

Sua língua ferina conhecida de todos, não perdoava ninguém, nem ele mesmo (contava histórias até das trambicagens que fazia) e era célebre sua forma de logo após cumprimentar um deputado passante pelo grupo, concluir (agora em voz mais baixa) sobre o passado corrupto do congressista, que virava chacota no grupo. Fui testemunha de algumas dessas “tertúlias”.

Numa delas lhe perguntei? Mas são todos, deputado? Ele rapidamente ficou sério e disse: não, tem uns 5% aí que são desviados (corretos) e a algazarra tomou conta do corredor...

Todos sabem que político nesse país é sinônimo de gente especializada em achaques a empresas, vendas de voto em votações importantes, apoio a projetos em trocas de vantagens financeiras ou cargos no governo, rachadinhas mil, desvio do dinheiro da quota parlamentar, traficâncias das emendas parlamentares com prefeitos e empresas, apropriação ilícita de dinheiro da bolsa-família, da merenda escolar, do FNDE, dos fundos de pensão, a lista é longa. 

A única coisa que eles não fazem é exatamente para o que foram eleitos: votar em defesa dos interesses do povo e da Nação. Exceto os 5% - que eu arrisco serem 10% - que o deputado dizia serem “desviados” por serem honestos e profícuos em seus mandatos.

Com o advento da Lava Jato que conseguiu a façanha de colocar na cadeia parte dos maiores empresários do país, e toda a cúpula petista, com raras exceções, e dos partidos aliados ao achaque petista à Nação e a chegada de juiz Moro ao ministério da justiça – nos pareceu que uma lufada de vento puro em meio a borrasca do planalto central acontecia – imaginamos que seriam aprofundadas as ações de combate a corrupção neste país.

Qual o quê. Bombardeado no Congresso pela banda podre ameaçada de prisão, e sem apoio de Bolsonaro, Moro não conseguiu levar adiante seu intento, até porque, como pelo menos 80% dos eleitores eventuais de Bolsonaro, foi enganado por ele com seu discurso de seriedade e ruptura com a roubalheira. Hoje sabemos quem ele é. Uma farsa ambulante. 

Aliou-se ao Centrão, não consegue se desfazer da imagem que - vai e volta – está sendo associada ao milicianismo, uma das formas de atuação do crime organizado do Rio de Janeiro, um filho ameaçado de perder o mandato por praticar a rachadinha, açulador do golpismo desejado pelas hostes radical-quase criminosa do Bolsonarismo raiz e gestor da mais alta pior qualidade que, literalmente, em um ano e meio de governo nada fez de útil por esta Nação.

Essa miscelânea de visões tem um propósito. Alertar mais uma vez ao cidadão em relação a seu voto. Por que só ele é capaz de alterar esse quadro imoral e fétido que permeia a política neste país. Neste exato momento, deputados (e logo depois senadores farão isso) estão se articulando para mais um golpe. Desta feita a proposta que corre escondida nos bastidores e desvãos do Congresso é para que a prisão em segunda instância só venha a ocorrer DAQUI PARA FRENTE. 

Ou seja, os bandidos tentando de novo livrar suas caras da prisão. Da maneira como estão encaminhando, todas as suas falcatruas, roubalheiras e até crimes comuns ficarão para trás e eles estarão – de novo – limpos para começar tudo de novo.

Anteriormente, eles já haviam encontrado outro jeitinho de escapar da Lei. Neste caso, via justiça eleitoral – sabidamente desequipada para tal – que recepcionará os processos com as falcatruas de suas “excrescências”, uma forma de burlar legalmente a lei e continuarem impunes já que esse tem sido o padrão naquela casa julgadora quando se trata de “autoridades” do primeiro escalão da República.

Fique atento ao seu deputado e ao seu senador. Pressione-os. E se não obtiver sucesso, para de votar nele e explique para as pessoas por que não devem fazer isso também. A eleição que se avizinha é uma ótima oportunidade de começar de baixo a limpa. 

Depende de você.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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