colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Quem ganha com a pandemia II

05/07/2020 - 08:58

ACESSIBILIDADE


Outra tendência observada no pós-peste negra e agora é o fortalecimento do Estado enquanto ente emanador de poder. Lá atrás a epidemia gerou concentração de poderes nas mãos dos Estado, aumento de impostos e a maior dependência deste em relação às grandes empresas. Nada diferente do que está a acontecer agora.

Por séculos, a ideia central de que a Nação seria o centro emanador do poder político e econômico foi sempre o Norte a ser seguido. Hoje, especialmente a partir do pós-guerra, essa premissa vem se diluindo com o aumento espantoso do tamanho e poder dos grandes conglomerados corporativos. 

Como exemplo pode-se citar os casos do Wal-Mart que possui uma “economia” maior que a da Espanha, um país rico e desenvolvido, ou o da Toyota, que é um “país com um PIB” maior que o da Índia, para ficar apenas nesses dois exemplos.

A enorme capacidade desses mega grupos influenciarem políticos e legisladores é fato incontestável e evidente. E isso muda tudo em termos de distorções do mercado e de perdas para o trabalhador. Em 2016, das 100 maiores entidades econômicas do mundo, 31 eram países e 69 eram empresas...

O coronavírus além dos efeitos deletérios ao homem e à economia parece estar indicando uma nova rota (ao menos provisória) de retomada parcial do poder pelo Estado em face do tamanho enorme da crise que está provocando. 

Ao direcionar seus recursos para o esforço do combate a epidemia, para os mais pobres através de auxílios financeiros e, às empresas com grana para sobreviverem (o Brasil ainda está a dever nesse quesito especifico), o Estado retoma o Keynesianismo e o protagonismo político e econômico perdidos, dada a magnitude dos recursos envolvidos e da extrema necessidade de rapidez no atendimento das demandas da Nação.

Mas essa retomada embute uma ameaça: o autoritarismo estatal. Se pararmos para analisar o grau de intervenção que o Estado está exercendo durante esta pandemia controlando o ir e vir das pessoas, obrigando-as a ficar em casa, fechando empresas por tempo indeterminado, utilizando-se do seu poder de polícia, podemos arriscar que até um rei dos tempos medievais ficaria impressionado com tal demonstração de força.
Tudo bem distante e contrário às ideias liberais/conservadoras.

Tanto na epidemia da peste negra quanto na pandemia do Coronavírus é fato o aumento do poder do Estado e das grandes empresas. Mas agora outras variáveis entram na dança para embolar o meio de campo do analista.
A covid-19 não matará metade da população, portanto, ao findar, teremos pela frente a árdua tarefa de reempregar milhões de trabalhadores mundo afora para atender a retomada das atividades comerciais. 

A questão é que nem todos os empregos retornarão. Uns por que as empresas fecharam, outros por que sobreviveram podem ter estabelecidos novos protocolos operacionais que prescindem de mão de obra, e outros ainda por que as micro, pequenas e médias empresas fragilizadas financeiramente estarão sem condições de retomar as atividades no mesmo nível de antes da pandemia.

Outra ameaça de que pouco se fala é o risco de na retomada as políticas de contenção das emissões de CO2 sejam relegadas a segundo plano em nome da recuperação econômica. O que será mai um problema à frente vez que o planeta está de fato mais quente e continuará a aquecer se nada for feito. É esperar para ver.

Quem sabe o altruísmo que filósofos, sociólogos e outros preconizam para o pós pandemia não vinga e empresas e pessoas sairão dessa com novos e melhores ideias conservacionistas, por exemplo? A peste negra e a covid de fato causaram a concentração do poder no Estado e a centralização dos negócio nos grandes conglomerados. 

Será que essa conjugação de forças será suficiente para ajudar no combate da enorme crise que já está às portas dos países?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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