colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Quem ganha com a pandemia

04/07/2020 - 08:17

ACESSIBILIDADE


Esta semana a BBC News publicou ensaio de autoria de Eleanor Russel, doutora em história pela Universidade de Cambridge e do prof. Martin Parker, da Universidade de Bristol, ambas na Inglaterra sob o titulo “How pandemics past and present fuel the rise of mega-corporation” publicado originalmente em The Conversation e que trata sobre como pandemias ajudam aos ricos e às megacorporações a crescerem ainda mais.

A análise busca correlacionar os efeitos provocados pela epidemia da peste negra na idade média, com o que está acontecendo no momento com a pandemia da covid-19.

A peste negra (bubônica) matou quase metade da população da Europa e Oriente e devastou a economia do mundo de então. A abrupta redução da mão de obra teve, por outro lado, uma face positiva ao permitir que os camponeses que sobreviveram exigissem melhores salários. Foi o início da corrosão do regime feudal e o surgimento de um regime baseado em salários.

A peste negra ajudou no estreitamento dos laços dos governos ao mundo empresarial de então fazendo surgir nova classe de ricos e aumentando o poder das grandes empresas da época cuja visão de longo prazo lhes assegurou maior participação no mercado pós-epidemia. 

E aquela realidade tem forte paralelo com o que está acontecendo agora com a pandemia da COVID-19 no mundo contemporâneo, embora haja enormes diferenças de velocidade, tamanho e interconexões entre os dois mundos para se fazer comparativos mais exatos.

Com o advento do salário, camponeses passaram a ter dinheiro vivo em mãos e a ser uma das razões para o surgimento de empresários mercantes com capital suficiente para suportar o atendimento da nova demanda que surgia em escala adequada.

“Ao contrário dos tecelões independentes que tinham pouco capital e diferentemente dos aristocratas, cuja riqueza vinha da terra, os empresários urbanos podiam usar seu capital líquido para investir em novas tecnologias, compensando a perda de trabalhadores com máquinas”, afirma os autores do artigo. A peste negra terminou por levar nos séculos XV e XVI à concentração dos recursos às mãos de poucas grandes empresas que eram detentoras do capital e das infraestruturas necessárias aos negócios da época. 

E o que vemos no presente pandemia da covid-19 em relação a isso?

O fechamento abrupto das empresas por tempo superior a 60 dias na maioria dos países, terminou por concentrar as vendas de produtos de primeira necessidade às redes de supermercado, enquanto Amazon, ebay, Argos e outros gigantes do comércio tomaram conta do mercado de produtos “não essenciais” pelos canais online.

Outros setores dominados por empresas gigantes que estão se beneficiando nesta época de pandemia são o de entretenimento (Netflix, Disney, Amazon Play...), o de plataformas (Google através do You Tube, Facebook com o Instagram e Twitter) que dominam o tráfego na web e na ponta, empresas de entrega como UPS, Fedex, Amazon Logistic, que viram exponenciar suas demandas, assim como o setor de entregas rápidas de alimentos onde UBER, Rappy, Deliveroo e outras estão nadando de braçada. Além, claro, da indústria da saúde.

Todos beneficiados diretamente pelas tecnologias que dispõem, por seus modelos de negócio que caem com luva para o momento, pelo aumento colossal do uso do “dinheiro de plástico” onde se destacam VISA, Mastercard, PayPal e Amazon Pay e por seus enormes capitais.

Como se vê nada que uma boa crise para aumentar o poder e a riqueza dos já muito ricos e empobreça ainda mais os trabalhadores e o povo em geral. Jeff Bezos da Amazon aumentou sua fortuna apenas este ano em mais 25 bilhões de dólares...

Mas não é só isso. (continua amanhã).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato