colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

As empresas ou a vida

29/06/2020 - 12:49

ACESSIBILIDADE


O tema já deu muito que falar. Não vamos repetir argumentos já esgrimidos por defensores da abertura da economia ou defensores da vida que propugnam a manutenção da quarentena. Até porque o país não fez bem nem uma coisa, nem outra. Na verdade, a condução da epidemia pelos governantes tem se mostrado uma tragédia dentro da tragédia.

E isso precisará, no devido tempo, ter apuradas responsabilizações. Há dias, o primeiro ministro italiano – extremista direitista como o presidente brasileiro – foi chamado às falas pelo Congresso italiano, e está se virando para explicar porque deixou a coisa chegar naquele país aonde chegou: 32 mil mortes. Enquanto por aqui, caminhamos céleres para 100 mil...

A quarentena no Brasil foi 100% boicotada pelo presidente da República, mas governadores e prefeitos, também administraram mal seus distanciamentos meia boca. Tanto que hoje apenas 35% das pessoas estão obedecendo. E isso está sendo fatal para o controle epidêmico. É o fator responsável por ainda não termos alcançado o pico da epidemia 90 dias após seu início.

Já do lado empresarial, a coisa desandou desde o início da epidemia o ministro Guedes “paralisou” (pouca gente notou, mas ele se mandou para sua casa no Rio e ficou ausente de tudo por 3 dias, foi necessário o presidente convocá-lo a Brasília. Há desculpas, mas o fato é este). E assim ele ficou por um importante lapso de tempo.
Depois de muita pressão para um programa de ajuda empresarial, ele se saiu com insana ideia de que iria ajudar apenas as grandes empresas, porque é delas que o Brasil vai precisar na saída da epidemia.

Após muito mais pressão, o governo soltou um programa de ajuda corporativa aos pequenos que não tinha como vingar. E o ministro ex-dono de banco devia saber disso. Depois do malogro e de 97% de nãos aos empresários que foram aos bancos, sai outro “programa” com pequenas alterações que também não deu em nada. E o tempo passando e as empresas fechando sem reabrir... 90 dias e até agora nada. 

No final de semana o governo anunciou mais um pacote de ajuda. Pode ser que esse funcione para aquelas que ainda estão vivas. Isso porque se trata, numa linguagem simples, de dinheiro direto na veia das empresas.
O governo cria, via bancos, um canal direto com as micro, pequenas e médias, garante toda a operação e os bancos apenas repassam. Tem tudo para funcionar, desde que algum burocrata inspirado não invente em cima.
Será que esses senhores da economia não sabiam que esse era o caminho único e último?

Se essa iniciativa tivesse sido tomada há 60 dias, a pressão pela reabertura (e em consequência, o aumento do número de infectados) certamente seria muito menor que a que aí está.

A abertura da economia quando a epidemia ainda caminha para o pico será um teste e tanto. Vamos fazer história se isso der certo. Duvido muito. Vem aí uma segunda onda.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato