colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Recuperação em W, V, L, Z ou Visto?

28/06/2020 - 10:35

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Essa sopa de letrinhas faz parte das discussões técnicas a respeito do tipo de recuperação econômica que teremos no pós covid-19. Cabe alertar de cara que os dados projetados para o Brasil pós coronavírus vão dos irreais - 4,7% de queda do PIB previstos pelo ministério da economia, ao elástico -9,1% de retração do produto projetado pelo FMI. Outros números oscilam com tendência negativa para o PIB na faixa intermediária em torno de -7%.

Dito assim, para o leigo pode parecer números sem maiores implicações no seu dia a dia já tão atribulado. Não é. Trata-se da segunda maior queda do PIB brasileiro só perdendo para a do governo Floriano Peixoto lá no distante inicio do século XX, segundo estudo do economista Reinaldo Gonçalves da UFRJ. Agora, se tomarmos, o que acho mais provável de acontecer, os dados do FMI de uma queda para 2020 de -9,1% no PIB nacional, a retração da economia brasileira será a maior de todos os tempos. 

Se compararmos com a brutal queda do produto nacional no desastrado governo petista de Dilma Rousseff (-3,8% do PIB em 2015), perrengue que o Brasil sequer havia saído até o final de 2019, dá prá sentir o tamanho do problema que temos pela frente. 

No momento, a discussão entre economistas e entidades ligadas à produção e ao mercado financeiro se dá sobre como se será a recuperação da economia no pós-epidemia. Antes de adentrarmos no tema propriamente dito, é bom citar que a sopa de letrinhas no titulo deste artigo se referem às principais possibilidades teóricas dos modelos de recuperação econômica estudados.

Uma recuperação em W significa dizer em outras palavras que a coisa vai acontecer num sobe e desce, é o que chamamos de recuperação tipo montanha russa, com quedas e retomadas. Um cenário de crescimento em V significa que a atividade econômica tem queda vertiginosa, mas em seguida se recupera vigorosamente, já num cenário em U, a economia tomba de uma vez e vai demorar a se recuperar.

Se o retorno da economia se der em L, significa que a atividade econômica cai fortemente e não consegue se recuperar rapidamente. É o pior cenário. Após a queda a economia (como vinha acontecendo com a Brasileira pós-Dilma, passa a ter crescimentos ínfimos e mais das vezes sob a forma de voo da galinha, breves.

Se o crescimento de der em Z que é a hipótese mais otimista, significa que a economia cai abruptamente e quando retoma o seu crescimento, este se dá acima do PIB anterior à derrocada, fruto do aumento da demanda reprimida durante o período de baixa da economia. Não é o cenário que vai acontecer no Brasil. 

E, finalmente, um modelo de recuperação da economia tipo o logotipo da NIKE em forma de um VISTO. Que nos parece ser o caminho que este país irá tomar. Ou seja, após a enorme queda do PIB durante a epidemia, a recuperação econômica vai se dar de forma lenta – mas constante – em direção tão somente aos mesmo patamares de antes da crise que estamos vivendo. 

Uma pena, porque isso significa a retomada de crescimentos pífios, insuficientes para criar as bases e condições para a retomada do processo de desenvolvimento do país que estacionou desde a década de 1980.

O previsto crescimento tipo VISTO no Brasil tem uma explicação plausível do ponto de vista da demanda e da oferta. Barry Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e ex-consultor sênior no Fundo Monetário Internacional (FMI), está entre os que esperam este formato devido a uma cautela generalizada.

“As famílias se deram conta que não tinham poupanças suficientes para lidar com o choque. Elas estarão preocupadas de que o vírus vai voltar, ou que haverá outro choque igualmente severo, então veremos mais poupança como forma de precaução”.

“Além disso, as empresas não estarão dispostas a se comprometer com projetos ambiciosos de investimento enquanto não estiverem certas de que o vírus não vai retornar”.

Se as projeções do PIB, como vimos estão oscilando de -4,5% a -9,1%, o mesmo não acontece com as previsões de crescimento para 2021 que estão mais ou menos homogeneizadas em torno de 3,5% para o PIB do próximo ano.
Na prática isso significa dizer que se o PIB brasileiro decrescer 7% como projeta a média das estimativas, ao fim de 2021 ainda teríamos que remar outros 3,5% de crescimento em 2022 para voltarmos ao PIB de 2019... 

Se a queda for maior, de 9,1%, por exemplo, e o crescimento se mantiver firme em 3,5% (o que definitivamente não acredito), só em 2024 retornaríamos a 2019. Um ano péssimo lembra? Caminhamos, a meu ver, para um retorno a 2019 ainda mais longínquo...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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