colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Incerteza é seu nome Brasil

22/06/2020 - 16:50

ACESSIBILIDADE


De dezembro de 2019 a abril deste ano, o Brasil viu os fundos de investimentos se desfazerem de 3,4% dos seus títulos da dívida mobiliária brasileira e os investidores estrangeiros seguirem o mesmo caminho, só que num passo mais acelerado, se desfizeram de 10,3% de títulos da dívida externa brasileira que tinham em carteira. Somente no mês de abril (maio ainda não está fechado) eles retiraram do país 24 bilhões de dólares.
Um claro indício de desconfiança na atual gestão do governo federal. Desde o ano passado que se tem observado que o apetite sempre voraz do capital estrangeiro, principalmente, vem diminuindo paulatinamente ao avanço do atual governo em sua guinada antidemocrática.

Outro dia afirmei nesta coluna que o capital é bicho arisco. E é. Ao menor sinal de perigo, corre mais que o ex-velocista Usain Bolt em direção a “portos mais seguros”. E essa menor disposição somada às ações concretas de retiradas de grande porte, começam a colocar em risco a estratégia do governo federal quanto ao lançamento de títulos da dívida para financiar os seus deficits, vez que os maiores interessados estão batendo perna para longe.

Entre maio de 2020 e abril do ano que vem, o Brasil terá que honrar 862 bilhões de reais da dívida interna mobiliária que vencem ao longo daquele período. E com o deficit fiscal descomunal (estimado em cerca de 700 bilhões de reais) para 2020, restam poucas saídas para a captura de – no mínimo – uns 900 bilhões de reais, limitando as alternativas de momento às mais cômodas. 

Para zerar aquele passivo gigante que já nos espreita por detrás das frestas das persianas, o país vai precisar a) rolar parte dessa dívida – e certamente em valores superiores aos 14% atuais; b) colocar no mercado – e vender – papéis em montante superior ao saldo que irá vencer e/ou c) se desfazer de parte do colchão das reservas em dólares que o país detém. 

Que num momento de alta insegurança econômica global e de alta octanagem política interna, pode não ser a melhor das opções por razões que também já tratamos anteriormente.

E a porca continua a torcer o rabo. A dívida mobiliária deve chegar ao final deste exercício representando entre 90% a 100% do nosso PIB e, em outro artigo mostrei os perigos que isso representa para o país.
O teoricamente “aceitável” máximo vai até 70% do PIB (já estávamos em 76% antes da Covid-19 e, essa já era, certamente, uma das razões das inquietações dos investidores estrangeiros). O aumento abrupto para 90% a 100% do PIB pode promover a dúvida (já existente, na verdade, entre estrangeiros – embora, pessoalmente, ache isso exagero de aplicadores profissionais) em relação à solvência da dívida do país.

Os próximos meses serão eletrizantes. O governo precisa convencer a sociedade e os políticos da importância da retomada das suas reformas estruturantes. Seria um sinal bastante positivo para os investidores e para ajudar a desanuviar um pouco as nuvens plúmbeas que ameaçam cair sobre nossas cabeças.
Ao menos em relação a esse tema.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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