colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O engodo da educação - final

19/06/2020 - 09:52

ACESSIBILIDADE


Nesta pandemia as escolas fecharam e os alunos estão enclausurados. Mas eis que algum iluminado pensou “e por que não aulas online”? O velho conhecido EaD ou ensino à distância, tão maltratado neste país em todos os níveis. Do fundamental ao doutorado.

Pensado inicialmente como uma solução para aqueles que não pudessem frequentar a escola por razões várias, ou que gostaria de retomar os estudos, porém de uma forma menos “corrida” que nas escolas tradicionais, o EaD no Brasil tem hoje mais de 10 milhões de alunos. Mas se tornou uma fábrica de entregar diplomas. Essa é a dura realidade.

Com baixíssima qualidade didático-pedagógica, tecnológica e multimídia, sem qualquer seleção criteriosa dos alunos, com avaliações “frouxas” para ninguém desistir (que é prejuízo para a entidade ministradora), com docentes que fazem da atividade um bico por ser profundamente mal remunerada, com frágeis quadros de monitores e material didático que remonta aos anos 1950 do século passado em termos de modelagem dos conteúdos, nossa EaD só brilha num quesito único: a grande lucratividade das entidades ministrantes. Mais?...

Mas aí voltando ao “iluminado que pensou na EaD como a saída para este período de pandemia, eis que de repente, magicamente, a toque de caixa, o nosso docente foi transmutado de lentes deficitários em sala de aula a expert em EaD. Algo profundamente mais difícil, sofisticado e muito além de suas capacidades atuais. E tomem “aulas” que fico a imaginar o quão de pior ficou, até em relação ao que já era muito ruim presencialmente.
Fazer EaD é muito mais difícil e sofisticado que produzir um programa de TV. Exige muito mais sensibilidade, muito mais qualidade da informação, muito mais gestão de conteúdos, profissionais de altíssima qualidade técnica em todas as áreas, especialmente na docência. 

Fico a imaginar o nosso pobre e quase sempre despreparado docente, sem material didático adequado ou estrutura de TI e multimídia zero ou quase zero, se esforçando para ser 100 em 1. Sim, a produção de uma boa aula envolve certamente mais de uma centena de profissionais de áreas diversas. Não funciona. Nunca vai funcionar. Nunca foi assim no Brasil.

Isso para não falar que os alunos das escolas públicas em sua maioria sequer têm como ter acesso às porcarias que certamente estão sendo empurradas em suas cabecinhas jovens. Às vezes o não fazer é muito melhor que o fazer muito ruim. É o caso. Conheço razoavelmente do tema para, sem arriscar, dizer que essa emenda “Eadista” está saindo muito, mas muito pior mesmo que o soneto do poeta dos versos quebrados.

“Educar não é ensinar respostas. É ensinar a pensar”. Quem disse isso foi um cara que para mim é um gigante da Educação. Com letras maiúsculas: Rubem Alves. Educação gera conhecimento, que leva à sabedoria, à expertise. Uma Nação com déficit educacional é como um pássaro sem asas. Não voa. Não vê o todo. Empobrece-se. Fico triste em constatar que essa Nação está produzindo pessoas que comparadas a um cidadão norte-americano produz apenas 1/5 do que o gringo. E olhe que a escola pública americana não é lá essas coisas. Agora imaginem o que temos por aqui... 

Iniciamos esse ciclo de 3 artigos narrando uma experiência no desenvolvimento de um sistema educacional para o ensino fundamental “diferente” de tudo que aí está. E das dificuldades que tivemos para a execução do piloto em face das restrições qualitativas dos docentes da localidade escolhida para os testes. Coisas que com certa dificuldade, foram contornadas, mas com um atraso de um ano no nosso cronograma, o que fez o orçamento do projeto estourar e a empresa desenvolvedora entrar em dificuldades.

Mas o maior problema veio depois de sanadas aquelas dificuldades. Com a mudança de gestão na prefeitura da cidade sede do piloto, o novo gestor com receio de que o sucesso dos testes (que estava sendo primoroso) poderia ajudar o ex-prefeito a se eleger deputado estadual, passou a boicotar o projeto e o resto vocês podem imaginar... O ensino fundamental nacional deixou de receber um belo presente que poderia ter significado um – aí sim – enorme salto na qualidade do ensino neste país. É assim que se faz educação neste país. Prioridades...

Nesse sentido, hoje foi um dia emblemático da prioridade que a educação tem neste país. Conseguiram arranjar um jeito de expelir o tal do ministro da educação que esteve lá não se sabe para que, quando tanto teria para ser feito, inclusive dentro da pauta conservadora. Um incompetente radical de direita. Tão ou mais incompetente que os falsos ilustrados esquerdistas que por lá passaram durante 13 infaustos anos.
Vem outro aí. Certamente mais do mesmo. Não importa. 

O ministério da educação é uma máquina de moer reputações. Não vejo saída que não implodi-lo. Criar uma agência da educação que livre o país aquele daquele repositório do atraso envolvido em falcatruas de todos os portes e em todas as áreas. De nada adianta se ficar falando em “salvar” a educação, em querer prioridades. A saída da educação brasileira é um funil estreitíssimo onde não cabe passar esse mostrengo defasado que tentam enfiar funil adentro. 

Se não se fizer uma limpa geral do entulho que atravanca a educação brasileira, com seus “avanços” a passos de cágado, vamos continuar comendo poeira de países como o Chile, o Uruguai, a Argentina, o México, a Colômbia e nos equiparando ao Peru, a Bolívia e a outros do mesmo porte, sem desdenhar de suas dificuldades. E isso, apenas para ficarmos na América do Sul...

Como disse anteriormente, é assunto demais para espaço de menos. Mas uma coisa é certa. O que nossas autoridades, educadores, gestores da educação e que tais estão fazendo com a Educação Básica Brasileira é questão de lesa pátria.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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