colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O engodo na educação II

18/06/2020 - 10:03

ACESSIBILIDADE


Falávamos ontem sucintamente de uma experiência piloto que lideramos para o desenvolvimento de um disruptivo sistema educacional multimídia online voltado para a educação fundamental, e dos percalços que enfrentamos para a execução do piloto em face do déficit qualitativo dos docentes do município.

Pois bem, aquele baixíssimo desempenho geral acendeu uma luz vermelha na equipe de desenvolvimento, até porque também coordenadores e diretores tiveram identificados graves déficits de conhecimento de gestão, domínio raso do pacote Office e pouca/nenhuma experiência efetiva no uso realmente criativo de métodos de ensino participativos, interativos ou de aprendizagem contextualizada. E fomos atrás dos “porquês”.

E logo encontramos o mais gritante. Quase 95% dos gestores e docentes haviam feito suas “especializações” à distância através de algumas das muitas sinecuras de ensino à distância que operam com aprovação e beneplácito direto do MEC (falar das patranhas e da corrupção surda que reina nesse mastodonte arcaico ou de sua inexistente ação em prol da educação brasileira, somente se este artigo se tornasse um livro, daqueles bem grossos). 

Aliás, existe uma frase matadora do José Manuel Moram sobre o que NÃO estamos fazendo com a educação e a EaD em particular, em prol da formação docente ou da educação: A TV apenas entretém. A escola diz que educa. E pela TV não dizer que educa, o faz de forma mais competente. Nós, educadores continuamos prendendo o aluno pela força, confinando-os, fazendo atividades pouco ou nada atraentes.

Se observarmos as propagandas dos cursos de especialização de docentes via EaD, por exemplo, encontramos uma profusão de mensagem subliminares das vantagens competitivas do uso das ferramentas de TI, multimídia e demais utilidades (mal) empregadas nos “cursos” que irão “ajudar” o aluno-docente a performar em suas carreiras...

Mas quando se olha criticamente os dados do Censo EaD (2018) a leitura pode ser outra, bem diferente. Como o exagerado índice médio de 50% de evasão dos alunos, ou que apenas 20% dos conteúdos são feitos por doutores com conhecimentos específicos em cada área especializada, para se saber que algo anda muito errado na EaD brasileira.

Mas se o leitor não se der por satisfeito, pode ainda consultar a opinião (fortemente negativa) dos estudantes para se descobrir que a “excelência” da quase totalidade dos cursos fica na propaganda e nos dados capciosos e generalistas vendidos ao mercado.

Antes de irmos em frente com a descrição do projeto que estava sendo feito em Goiás, é preciso que se diga que a EaD é apenas uma ponta pequena do enorme iceberg de problemas nos quais se constitui a educação brasileira. E para isso, nada melhor que algumas opiniões de gente e instituições bem qualificadas no seio da educação brasileira sobre o estágio atual em que a educação se encontra. 

* Nosso modelo educacional está falido. A escola atual não atende as necessidades desta geração de crianças e jovens digitais. (Maria do Pilar Lacerda, Ex - Secretária de Educação Básica do MEC).

* O Brasil ocupa o 54º lugar entre 65 países avaliados pelo PISA (Brasil Escola). A má qualidade das escolas (o conjunto físico, docentes, métodos de ensino, etc. "talvez mais do que qualquer outra coisa" é o que "freia" o desenvolvimento do país (revista The Economist)

* Educar com novas tecnologias é um desafio até agora não enfrentado com profundidade. Temos feito apenas adaptações, pequenas mudanças (José Manoel Moran, um dos principais pensadores da educação digital da América Latina), para ficar apenas nesses aí. 

* Enquanto a Universidade continuar insistindo para que jovens com alto déficit cultural, sérias restrições de conhecimentos gerais e na grande maioria desprovidos das condições básicas mínimas para frequentar um curso superior se tornem da noite para o dia em “pensadores da educação” como querem seus mestres, a coisa não vai funcionar. 

Menos ainda quando por detrás disso se esconde a teoria Gramscista-socialista de ocupação de máximo de espaços estratégicas da Nação escondida por detrás de falsas máscaras “democráticas” que não escondem seus verdadeiros intentos de dominação política da Nação.

O resultado disso está à vista. Há dezenas de anos não avançamos na Educação, ou quando o fazemos é a passo de cágado. Ou de preguiça. Nossas crianças concluem o ensino médio (nas escolas públicas, principalmente) mal sabendo alguma coisa das 4 operações básicas da matemática ou sem conseguir ler, entender e interpretar um texto de que contenha mais de 6 linhas. Chegam ao mercado já vencidos pela luta social desigual e, pelo que está sendo cometido contra eles em sala de aula. 

O professor que está sendo despejado no mercado de trabalho é um incapacitado do ponto de vista pedagógico-educacional. Quem deveria qualificá-lo para - em sala de aula – serem mediadores de alto nível do processo de ensino-aprendizagem, capazes de produzirem e levar ao aluno, aulas contextualizadas, práticas, de qualidade e com simulações de casos; Mais informação digital online com farto uso de mídias colaborativas ou faze-los experimentar os “sabores” dos vídeos, simuladores e animações, tudo isso em conteúdos em textos menores, diretos e melhor redigidos, não o faz.

Docentes despreparados até para aulas tradicionais, sem treinamento para a sala de aula (estágio), com um dos menores salários do ranking profissional do Brasil (que afasta a possibilidade de atração dos melhores alunos para a cátedra, como se faz na maior parte dos países lideres do PISA) e o ainda raso conhecimento básico operacional das TI, são faces da mesma moeda. A da educação desvalorizada. A do grande país atrasado, porque não consegue deslanchar a sua educação. 

A escola física, a mesma da metade do século passado, com seu modelo “linha de montagem”, conteudista (não que o método seja inválido, apenas não é bem aplicado e adaptado aos dias de hoje), aulas analógicas, padronizadas, impositivas, ausentes de prática, docentes sem medianizarem os alunos, quase zero de tecnologias da informação (especialmente nas escolas públicas).

Continuamos amanhã.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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