colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Aumentar a carga tributária não!

16/06/2020 - 10:03

ACESSIBILIDADE


Uma dupla de economistas americanos, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff em seu livro “Desta vez é Diferente” analisam 800 anos de endividamento de países de todo o mundo. E concluíram que o colapso se dá quando eles atingem uma dívida correspondente a 80% do PIB. O Brasil sairá no pós-pandemia com uma dívida interna beirando os 100% do PIB...

E as agências de risco já deram as caras sinalizando suas preocupações com a situação do Brasil. A FITCH já revisou para negativa a nota do país e a S&P de positiva para neutra. E a coisa pode piorar se o governo não apresentar um programa crível de redução do seu endividamento ao longo dos próximos 10 anos. 

E é exatamente aí onde a gata começa a torcer o rabo. Endividado, pressionado por manter um programa adequado de renda básica (que nunca houve no país, mas com a epidemia evidenciou-se impostergável), com um orçamento com limite de folga zero, fragilizado politicamente...

... Pressionado para realizar gastos/projetos, com forte queda na arrecadação neste e no próximo ano, tendo como pano de fundo o enorme endividamento das famílias e a fragilidade financeira da maior parte das micros, pequenas e médias empresas, o governo federal certamente enfrentará, sem qualquer sombra de dúvida, um biênio dos mais difíceis e desafiadores de que se tem noticia. A agenda pós-pandemia é desafio para os fortes...

Refazer os laços entre empregador e trabalhador, empresas e fornecedores, empresas e seus credores etc... Isso demora tempo. Você não entra numa recessão e sai imediatamente, como constata o economista-chefe do banco suíço UBS no Brasil, Tony Volpon. 

Há também o risco do governo querer inventar a roda no tocante a gestão da sua dívida, com o argumento de que com os juros baixos influenciando o custo da dívida, dá pra ir rolando... uma posição a meu ver bastante arriscada que vai nos deixar com a corda no pescoço por muitos e muitos anos. Então, o que fazer?!

Vamos direto ao ponto, os simplórios apelariam para o feijão com arroz de sempre que somente penaliza o brasileiro: aumentar impostos. Desconhecendo que nossa carga atualmente é de “apenas” 35,2% do PIB!

Existem outros caminhos: as reformas até agora postergadas; a implementação de uma política de Estado mínimo (ambas muito efetivas, mas com alcance de médio e longo prazo na redução da dívida) ou, a amortização de parte da dívida interna (cuja rolagem anda na faixa de 14%) via redução da divida interna (cuja rolagem tem custo entre 3% a 5%) via, por exemplo, venda de parte das reservas cambiais (o Brasil tem “excesso” de reservas) são algumas das alternativas que podem ser estudadas, e mais a frente (bem mais à frente) quando o país se reequilibrar, através da geração de saldos positivos do balanço de pagamentos. 

O mais importante neste momento é que os credores acreditem na firmeza das propostas do governo para a equalização deste sério problema. Mas parece que nem o próprio Secretário do Tesouro do governo federal crê nisso. Tanto é que acaba de pedir demissão argumentando outras coisas, mas no fundo, no fundo, o problema é a falta de confiança que este governo seja capaz de lidar adequadamente com um problema da magnitude do que nos espera logo à frente no pós-pandemia. 

Afinal, seria a única coisa certa que faria em 1 ano e meio.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato