Vale o risco?
O mercado brasileiro de capitais embora tenha melhorado bastante a sua governança, ainda se encontra a anos-luz dos mercados de países como Alemanha, Japão, Inglaterra e até mesmo dos Estados Unidos que, embora super-regulado, vai e vem aparece com um escândalo. Reconheça-se que por aqui, já foi muito, muito pior. Um verdadeiro Far West onde o investidor médio e pequeno nunca teve vez, manipulado ou explorado de forma calamitosa.
Não é um mercado para iniciantes. Ainda pairam algumas sombras dos tempos passados prontas para dar o bote em incautos, como se tratasse de um jogo de gato e rato (quem não se lembra do mais recente escândalo quando uma jovem de 22 anos aparecia em propaganda de determinado Trader afirmando haver ganhado 1 milhão de reais aplicando nos fundos daquela empresa e etc. etc.). Não deveria ser assim.
Na verdade, teoricamente, deveria ser um mercado de alta transparência por excelência. Mas não é. A obrigação de performar sempre termina por descambar parte dos seus protagonistas para sonhos às vezes irrealizáveis. E aí, o velho vale-tudo passa a imperar. Estamos vivenciando um momento desses. Como esperado, entre março e maio o desempenho das bolsas em todo o mundo desabou, como desabaram todos os demais segmentos do mercado, com raras exceções como o agronegócio global e local.
Mas a partir de meados de maio, os mercados financeiros dos países desenvolvidos deram um “cavalo de pau” na queda provocando reflexo direto na bolsa e na cotação do dólar no Brasil. Com um detalhe, os ativos nacionais haviam sofrido queda maior e mais rápida que a média dos países emergentes, e agora estão sendo mais rápidos na “recuperação” que o bloco a que pertence.
Colocamos a recuperação entre aspas, por que é preciso se olhar com mais cuidado e acuidade o que está acontecendo, já que os fundamentos em que o mercado se assenta não nos parece os mais seguros no momento: projetam o fim da epidemia para logo e a rápida recuperação dos mercados do primeiro mundo ainda neste próximo semestre.
Duas premissas extremamente otimistas, vez que organismos como FMI, OCDE e Banco Mundial preveem PIBs entre – 8% a -14% nos países centrais em 2020. Um enorme descompasso entre a economia real e as projeções do mercado financeiro (o Reino Unido por exemplo, projeta para o segundo trimestre uma queda do PIB da ordem de -20%...).
Isso, sem contar os perigos não captados na estimação dos PIBs, com uma segunda onda da epidemia (algo não descartado), o risco de bolha dos Bancos Centrais (pelo excesso de grana que foi injetada em seus mercados), assim como o comprometimento fiscal dos países. Todas variáveis passiveis de alterar fundamente o quadro econômico global. Nos parece que essa “recuperação” é andorinha de um voo só. Logo cai. E os incautos que acreditaram no oba-oba do mercado, mais uma vez vão cair de pato.
Não custa lembrar o conselho dos especialistas: antes de investir, atenção com os fundamentos.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA