colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Miséria, miséria

12/06/2020 - 08:33
Atualização: 12/06/2020 - 08:53

ACESSIBILIDADE


Lá pelos idos dos anos finais de 1980, a banda os Titãs gravou um música cuja letra se mantém atual até hoje por conter pérolas como “fracos, doentes, aflitos, carentes”, “cores, raças, castas, crenças”, “a morte não causa mais espanto” e resumi-la num refrão avassalador ”miséria é miséria em qualquer canto”.

Neste mesmo período, vejam só, o PT vendia para o mundo a farsa de que a miséria tinha acabado no país (sic!) quando bastava se olhar para o lado para se ver a multidão de desempregados, de miseráveis vivendo nas ruas ou sobrevivendo sabe-se lá como. E com essa balela enganadora, perdemos naquela época o ciclo de bonança econômica global que não se repetirá tão cedo, para realizar as reformas que o pais precisava para crescer.

Esta epidemia que está consumindo o resto das forças vivas do país rasgou o véu da insensível convivência que este país sempre teve com a população mais pobre e miserável e escancarou o seu verdadeiro tamanho: 70 milhões de famílias (e não de pessoas como erradamente se vem tratando o assunto) inscritas no auxilio emergencial e nome real: miséria.

O que tão somente comprova o que todos os governos e políticos sempre souberam, mas, sempre deram um jeito de mascarar com inócuos programas “sociais” grandiloquentes ou juras de prioridades que nunca aconteceram.
A Covid-19 ao escancarar o tamanho do problema mostrou com rara crueza, a grandeza da vulnerabilidade social da imensa maioria dos brasileiros, obrigando – a palavra é esta mesma – ao governo a abrir os cofres para minorar o ingente problema da pobreza gritante que surgiu de repente à sua porta ou arcar com uma ameaça real de sublevação social. 

Aberta a torneira e escancarado o problema da miséria brasileira, dificilmente no pós-pandemia, o governo terá condições de voltar atrás e se esconder – de novo – em torno de novas mentiras sobre a nossa realidade social.
E que o leva a um dilema real que é como assegurar a continuidade da ajuda aos milhões que se mostraram nesta crise, diante do altíssimo custo que é manter programas efetivos de renda básica (não a toa, o socialista PT fugia do tema como o diabo da cruz). 

E a discussão já rola nos bastidores políticos, governamentais e nas redes sociais. Uma delas – que de fato poderia ajudar nesse caminho – seria uma reforma tributária digna do seu nome, coisa impossível de realizar nesse governo com inimigos de todos os lados e pela absoluta ausência de lideranças no governo e nos meios políticos e sociais, capazes de levantar a bandeira do refazimento do pacto federativo que nos trouxe onde estamos hoje.

E, sabedor dessa impossibilidade, o presidente já deu o seu aviso: “não há dinheiro para seguir com isso, indefinidamente”. Aproveitou, claro, para condenar governadores, o STF, os “terroristas” que voltam às ruas contra seu desgoverno, como os culpados. Está aí o nó górdio desse governo. Se não souber desatá-lo adequadamente, será o caminho da sua derrocada. Os pobres e miseráveis não vão mais aceitar ficar sem uma renda básica.

A ver.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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