colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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2019 só em 2024, talvez em 2030

08/06/2020 - 13:30

ACESSIBILIDADE


Analistas do mercado e o governo erraram feio ao emitir previsões do PIB para 2020 extremamente otimistas, como se a economia finalmente estivesse decolando (e as mantiveram até início de fevereiro). Não estava. E alertamos neste EXTRA sobre isso.

A queda de 1,5% do PIB no primeiro trimestre deste ano, mesmo tendo a quarentena sido iniciada no país apenas nos últimos 10 dias de março, é a confirmação do que chamávamos a atenção ainda em dezembro do ano passado: a economia vinha claudicando, sem crescimento. 

Agora, eles ensaiam uma aproximação por tentativa e erro sobre o desempenho da economia para 2020. O governo fala em uma queda de 4.5% do PIB, o mercado em -4,1%, o FMI e o Banco Mundial estimam -5%.
Mas tem gente que entende que o buraco está bem mais abaixo. A XP investimentos, por exemplo, avalia uma queda do PIB no 2º trimestre em 15% e para o ano da ordem de -6%, o Goldman Sachs, estima que o PIB de abril/junho será de -12,9% e de -7,7% em 2020 e o Bradesco BBI trabalha com -9,7% no próximo trimestre e -7% no ano. A OMC- Organização Mundial do Comércio, entende que o PIB do Brasil alcance -11,4% em 2020.

Numa conta de papel de enrolar prego (já que não há variáveis para medir objetivamente) e considerando que até a primeira metade de março as estimativas do mercado eram para um PIB no 1º trimestre de 0%, significa dizer que, grosso modo, o -1,5% daquele indicador se deram basicamente nos últimos 15 dias de março.
Se isso for verdadeiro, mantida as restrições de mobilidade em junho, por hipótese, a queda do PIB no 2º trimestre pode alcançar magnitude ainda maior que a média projetada pela maioria do mercado: acima de 10%, portanto, na margem superior das estimativas que vêm sendo feitas no momento. De qualquer sorte, em qualquer dessas hipóteses aventadas acima, será a maior queda do PIB brasileiro em todos os tempos em um trimestre e em um ano.

No tocante às estimativas para o segundo semestre, acho que há muito otimismo quanto a uma retomada minimamente razoável das atividades na segunda metade do ano. Não creio nisso. A economia já vinha caindo aos pedaços em 2019, com um nível de atividade totalmente incompatível com as necessidades do país mesmo antes da epidemia.

Portanto, não será agora, depois dessa brutal retração do primeiro semestre, com o número de desempregados saindo dos 12 milhões para algo em torno de 18 milhões, milhares de empresas fechando (porque não estão sendo ajudadas pelo governo), uma fuga de capitais acelerada, os governos quebrados, sem condições efetivas de alavancar a economia e um país politicamente cindido, com um governo caótico e sem plano de saída para a crise, que a economia brasileira teria o desempenho que eles estão projetando.

Apenas como adendo, há uma semana a OMC estimou queda do comércio exterior brasileiro: -20%. Um número brutal. Que complica ainda mais as coisas, já que perdemos receitas em dólares (se a recuperação mundial for rápida aquele número pode cair para -8%, ainda assim, uma tragédia para as contas nacionais).

Em resumo, pode-se prever que a volta do PIB aos valores de 2019 deverá demorar no mínimo até 2014 (se as hipóteses otimistas do mercado vingarem). Se ao contrário, os números do PIB forem aqueles situados na margem superior das estimativas, podemos perder a década.
Infelizmente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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