colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Reabertura irresponsável

08/06/2020 - 08:54

ACESSIBILIDADE


Dias atrás o IHME - Institute For Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, o mesmo que abastece a Casa Branca com dados para o monitoramento da epidemia em território americano, tinha feito uma previsão para o Brasil referente ao mês de agosto próximo e indicou que naquele mês o país estaria chegando aos 125 mil óbitos, se o país como um todo não adotasse (no período da pesquisa) um lockdown de duas semanas. 

Não aconteceu. Muito ao contrário. O que se observa país afora - sob as mais diversas desculpas - é a irresponsável liberação das restrições de mobilidade da população em praticamente todos os Estados em plena ascensão geométrica da curva epidêmica do país. 

E o preço dessa fatura de irresponsabilidade de todos os níveis de governos está sendo cobrado agora sob a forma de projeções ainda mais preocupantes para agosto próximo, colhidas da mais recente e atualizada projeção do IHME para o Brasil: saltamos dos já absurdos 125 mil óbitos para 165 mil mortes até aquele mês. Podendo, no limite chegarmos a 253 mil óbitos. Ou seja, ¼ de milhão de pessoas abatidas pela Covid-19 no país até agosto!

O IHME aprofundou seus estudos nos Estados onde a epidemia mais tem afetado suas populações e o que coligiu foi o registro de pioras – e não melhoras – significativas no quadro endêmico em grande parte daqueles Estados, desde meados de maio.

Mas o que é ruim, nunca vem desacompanhado: a projeção anterior de 1.500 óbitos/dia para meados do mês de julho foi reformulada para muito acima. Agora, a previsão é de uma média de 5.248 óbitos a cada 24 horas no mesmo período. Com um agravante muito sério: segundo o Instituto, não há no momento condições técnicas para estimar quando se dará o pico da epidemia no Brasil. 

E nossas autoridades liberando o povo para a morte. 

O que até então era responsabilidade única do presidente da república com sua irresponsável defesa do liberou geral em plena pandemia, agora esse encargo está sendo absorvido pela maioria dos governadores que, frouxos e acovardados, estão indo de encontro à recomendação da ciência (embora se louvem de pareceres de “assessores”) com medo de enfrentar esse presidente ensandecido que precisa ser parado. 

E não se venha agora querer colocar em cheque a credibilidade do Instituto e a fidedignidade dos seus números. Foram eles que fizeram o presidente Trump – um negacionista empedernido – a mudar radicalmente de posição e admitir recentemente que se não tivesse ouvido suas admoestações quanto ao impacto da epidemia em território americano, o seu país poderia em agosto estar chorando a morte de 2,2 milhões de americanos. 

No momento, o número de óbitos naquele país alcançou 110 mil mortes. E a previsão do Instituto é que em agosto esse numero chegue a 140 mil. Exatos 6,3% daquele número macabro de 2,2 milhões, caso não tivesse o governo americano (e governadores) tomado as medidas adequadas para combater a Covid-19 (desde março, 95% dos americanos obedecem a regras de distanciamento social).

Agora, com o sucesso do controle da epidemia até o momento e preocupado com a economia (e sua reeleição) Trump passou a defender a reabertura econômica do país. Desde maio que Estados americanos vem promovendo a liberação dos controles da mobilidade e do distanciamento da população. Especialistas já alertaram que o tiro pode sair pela culatra. Pode haver uma segunda onda de contágio nos EUA no segundo semestre.

No Brasil, a extemporânea abertura que se está promovendo neste momento país afora, primeiro vai agravar ainda mais o já gravíssimo quadro atual aumentando em muito o número de óbitos. E segundo, tal qual os especialistas estão alertando nos EUA, pode acontecer mais à frente uma segunda onda de contágio por aqui. Nesse caso, fatal a qualquer pretensão de crescimento nos próximos 10 anos. 

O país grita por novas e verdadeiras lideranças. Essa turma que está aí está vencida. E a que chegou, precisa ser rapidamente neutralizada por incompetente, inconsequente e golpista.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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