colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Projeções, intenções e realidade

03/06/2020 - 09:14

ACESSIBILIDADE


No final de 2019, tanto o mercado quanto o ministério da economia, propalaram que o crescimento econômico para 2020 seria em torno de 2,5% a 3,5%. Com o surgimento do Coronavírus na China, governo e mercado balizaram suas projeções e reduziram para algo em torno de 1,5% a 2,5% de crescimento para este ano. Nos dois momentos “remamos contra a maré” é alertamos em vários artigos neste EXTRA em relação ao otimismo exagerado daquelas previsões.

Pois bem, há pouco saiu o PIB do primeiro trimestre (lembrar que a epidemia chegou de fato por aqui em meados de março) e os números negativos (-1,5%) daquele indicador para o período, apenas comprova o que afirmávamos desde Dezembro. Aliás, o mês de maior faturamento para a maior parte dos setores econômicos, teve desempenho pífio, quase zero a zero em relação ao mesmo mês de 2018, que já havia sido muito ruim.

Era fácil perceber que - com as famílias altamente endividadas, o desemprego altíssimo que não baixava senão alguns centésimos, a multidão de desalentados sem qualquer perspectiva, o raso desempenho do setor industrial e a fraca performance do setor de serviços - variáveis gritantemente altas como estas não poderiam deixar de ser adequadamente capturadas pelas fórmulas econométricas do governo ou do mercado. Aí reside um mistério...

Ainda mais porque àquelas variáveis, se somava também o impacto da enorme instabilidade política gerada e alimentada pelo atual governo brasileiro desde seu primeiro dia, a crescente saída de capitais estrangeiros do país, as não reformas administrativa e tributária e a ausência de um projeto de governo para o desenvolvimento da Nação.

A tudo isso se agregava a surda tensão do presidente da república incomodado com o pífio desempenho da economia em 2019, ameaçando o pescoço do ministro da economia, por mais que isso venha sendo negado. É a única explicação que consigo enxergar para o ministro ter estado tão “otimista” em suas projeções para o PIB deste ano. A chegada virulenta da epidemia no país, pode até ter sido um bálsamo para o Guedes, já que as atenções se voltaram para o combate à Covid-19. Mas, sua desastrada gestão da crise tem o trazido para o proscênio e sido um ponto muito negativo para o governo.

A proposta de ajuda mixuruca de 200 reais, o atraso no pagamento dos auxílios emergenciais, o empoçamento dos recursos que o governo disponibilizou para que os Bancos financiassem as empresas no período da epidemia, sua reiterada aversão à ajuda as micro, pequenas e médias empresas, declarações intempestivas como aquela – em plena crise - sobre a venda do BB e, principalmente a ausência, até agora, de plano de saída para a crise (talvez por que ele saiba que levará anos para voltarmos a 2019...), se constitui em um pesado contencioso. 

Que será aproveitado pelo “fogo amigo” onde se juntam o Centrão, ex-generais sonhadores do modelo Brasil Grande que faliu o país na década de 1980 e os novos candidatos a “campeões nacionais”. A mistura certa para implodir de vez o país. Guedes parou de ser incisivo num crescimento em V no pós-epidemia, já condicionando que pode vir a ser em U ou em L. Essa sopa de letrinhas parece um indicativo das iniciais de palavra erótica, tão ao gosto dos participantes da fatídica reunião ministerial de 22 de maio.

Ele vai precisar muito mais que palavras estimulativas para gerenciar com eficácia o processo de retomada da economia logo mais à frente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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