colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Quais as saídas para este país?

02/06/2020 - 09:35

ACESSIBILIDADE


Warren Buffet diz que só se descobre quem estava nadando pelado quando a maré baixa. Até dezembro, o ministro da economia do Brasil afirmava aos 4 cantos, alto e bom som, que o país estava em plena trajetória ascendente em termos de crescimento econômico e blá, blá, blá...

Estivemos dentre os economistas que discordavam daquela visão, a meu ver, descolada da realidade das pessoas e das empresas. O PIB do primeiro trimestre mostrou o quão ele estava errado, ou parodiando a frase do grande investidor global “era o ministro quem estava nadando pelado” com suas previsões otimistas. Tirante os 10 últimos dias de março, já com a epidemia à porta, os demais 80 dias teriam produzido crescimento próximo a zero, acreditávamos.

Com a epidemia, o país está tendo que desembolsar valores (sem qualquer planejamento) que podem alcançar 10% do nosso PIB na ajuda às pessoas e empresas (embora com sérios problemas na liberação dos recursos para fazê-los chegar à ponta). 

E ainda assim, as estimativas mais confiáveis indicam que a queda do PIB para este ano – por conta da inédita queda simultânea da oferta e da demanda - poderá chegar a -10%, podendo alcançar até -15%. O que vai levar a dívida interna brasileira para algo em torno de 90% a 100% do PIB (antes da pandemia, ela andava na faixa de 76%). Dito assim pode parecer algo trivial. Não é. 

Para se ter ideia, um comparativo: a crise no desgoverno Dilma nos fez perder cerca de 7% do PIB em dois anos. E todos sabem o quanto vinha sendo sofrido para trazer a economia de volta aos trilhos, quase 5 anos após o desembarque do PT e partidos satélites do governo. O que temos à frente é algo que – mesmo nos piores sonhos – é difícil de imaginar. 

É consenso que nossa dívida não deveria ultrapassar os 70% (e essa era a luta do ministério da economia, antes da epidemia, quando tentava aprovar as reformas estruturantes do país, que não saíram). Estamos em vias de vermos se esgarçar e ruir toda uma série de medidas importantes para o controle fiscal do país como a Lei de Responsabilidade Fiscal, A lei do Teto de gastos, dentre outros diplomas legais reguladores da atividade econômica. 

Na verdade, as pressões já começaram. Com propostas como, por exemplo, a criação de uma renda mínima para as pessoas mais necessitadas, muito além do bolsa-família. E essas demandas vão fazer explodir a dívida pública ou invés de reduzi-la, como é comum entre economistas. 

Esse aumento da dívida na prática vai nos levar ao encurtamento dos prazos e à necessidade de sua rolagem a prazos cada vez mais curtos (a crise crônica da Argentina tem como um dos lados situação similar) até, no limite, as fontes financiadoras secarem de vez, se perceberem ameaça ao seu capital. (antes passaríamos pela experiência de ter que pagar juros mais altos para a permanência do capital estrangeiro no país, já que sua saída iria pressionar o cambio e à inflação). Uma bola de neve que pode – no limite - levar ao default.

Como fazer então para evitar isso? Soluções existem, o problema aqui é outro. Estaria o presidente da república ameaçado por todos os lados por sua gestão conflituosa, disposto a “dar a cara à tapa” e apoiar um programa de ajuste fiscal em torno de 5% do PIB? Duvido.

Acho, na verdade, que o ministro Guedes já deveria estar arrumando a mesa, por que na hora que ele propor as medidas de ajuste, automaticamente estará fora. Concluo o tema amanhã!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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