colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A reunião que ainda não acabou

30/05/2020 - 07:24

ACESSIBILIDADE


Existem várias maneiras de se interpretar aquela fatídica reunião do ministério de Bolsonaro no dia 22 de maio. Todas nos leva ao pasmo com os despautérios, impropérios, palavras de baixo calão, escatológicas, imbecis, oportunistas ou golpistas ali pronunciadas. 

Aquela algaravia de baixíssimo nível me remete direto a uma frase imorredoura do grande e saudoso Millôr Fernandes “Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem”. 

Quero me fixar nas intervenções do ministro da economia Paulo Guedes. Custa crer, mas é verdade, ver que o cara embarcou direto na canoa furada da baixaria e das falas estapafúrdicas do convescote. E saiu-se muito mal na fita.

No exato instante em que sua responsabilidade de entregar um país melhor do que recebeu, aumenta ainda mais, o que vimos? Um sujeito perdido em ilações desarrazoadas entremeadas de palavras de baixo calão “temos que vender logo essa porra de Banco do Brasil”, que deve, sim, ser privatizado, mas não agora, e menos ainda durante uma epidemia dessas com seu valor na “bacia das almas”.

Ou, ao dizer que o país deve colocar dinheiro nas grandes empresas e ganhar com isso... Gostaria que alguém me informasse quando isso aconteceu. De quando o Brasil ganhou alguma coisa no seu eterno apoio de “mãe Joana” às ditas cujas. A mais recente incursão nessa área deu na fatídica política das “campeãs” nacionais dos governos petistas que todos sabem onde acabou. Talvez o ministro estivesse no seu dia de Dilma.

Ele já havia escorregado no inicio da pandemia quando perguntado como o país iria enfrentar a nova situação e saiu-se com a insensível resposta “fazendo as reformas estruturantes”. Que precisam ser feitas, de fato, mas que só promovem resultados no médio e longo prazo. O momento, em definitivo, não comportaria visão tão apequenada para problema urgente e da magnitude da COVID-19. 

Aliás, durante a epidemia, ele tem sido pródigo em gafes como a proposta de dar uma esmola de 200 reais para as pessoas enfrentarem em casa o Coronavírus. Foi preciso a intervenção do Congresso que aumentou em 3 vezes a mixaria proposta, para que mais essa vergonha não fosse impingida a 100 milhões de necessitados.

Ainda assim, vem atrasando de forma recorrente o pagamento dos 600 reais, e até o momento, dois meses e meio após o inicio da epidemia no país, ainda não pagou a 10 milhões de pessoas, sob a infausta desculpa de que “está em análise”, como se miseráveis e pobres pudessem de dar ao luxo de esperar comendo vento.

Outra atitude nefasta - que somente ficaram aclaradas com o vídeo da reunião - mas, em linha com sua posição, se reflete na não liberação de recursos para micros, pequenas e médias empresas. Mais de 95% delas tiveram pedidos negados pelos bancos com exigências descabidas e imorais para o momento. Estão a ver navios e ameaçadas de fechar as portas.

A promessa feita por ele de criar um fundo de aval para garantir até 85% dessas operações, até agora ficou nisso, promessas e leros. E as empresas ainda terão pela frente pelo menos 2 meses de portas fechadas ou de vendas irrisórias, como está acontecendo onde já se deu a abertura. Sem nenhuma ajuda concreta do governo, milhares delas não vão resistir.

O mesmo acontece com o auxílio emergencial. O governo e seu ministro falam que não tem como estender o auxilio à população e voltam a bater na tecla dos 200 reais, como última instância se tiver que liberar algum. Deveriam entregar 200 reais para ele e obrigá-lo a viver com isso durante um mês. Quem sabe assim ele se sensibilizaria...

Por outro lado, até o momento, a Nação desconhece qual sua proposta para enfrentar a crise econômica pós-pandemia. Fica a impressão, reflexo daquela fatídica reunião, que o ministro da economia não está nem aí para a população e que não tem um projeto para conduzir o país para fora das águas revoltas – que virão – no pós-epidemia. 

Pena que um sujeito tão bem preparado esteja faltando à Nação num momento tão grave.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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