colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O perfil do desastre

27/05/2020 - 09:52

ACESSIBILIDADE


Desde o advento desta pandemia, o Brasil é o país que mais vem sofrendo perdas. Até 15 de maio, por exemplo, nossa moeda era a que tinha pior desempenho dentre todas as moedas do mercado emergente em relação ao dólar: uma desvalorização gigante de 45%. A classificação de risco soberano do país no início da Covid-19 estava posicionada três níveis abaixo do grau de investimento por duas agências de rating (S&P e Fitch), um péssimo lugar para quem já esteve classificado como grau de investimento. 

De lá para cá, as duas revisaram a perspectiva do rating brasileiro de estável para negativa. O fluxo cambial nestes 12 últimos meses anda negativo em cerca de 50 bilhões de dólares, ou seja, dos 357 bilhões de dólares que tínhamos na reserva em dezembro de 2019, apenas em 4 meses e meio de 2020, cerca de 14% foram rifados por conta da corrida dos investidores estrangeiros para levar seu dinheiro de volta para o “aconchego” de seus países e da necessidade do BC de vender dólares para acalmar o mercado. 

É bom que se frise que em 2019, o pais já havia “perdido” outros 37 bilhões de dólares. Por enquanto, também é preciso que se diga que as reservas se encontram em nível mais que confortável, mas, se o governo no pós-epidemia avançar com o tal programa Pró Brasil (e tudo leva a crer que vai fazer isso, apesar das afirmações contrárias do presidente) que nada mais é que por o pé no acelerador do gasto público - ao invés de seguir a Lei do teto de gastos - aí o problema começa tomar ares de gravidade.

No momento, como afirmou economista sênior internacional da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia: “Os investidores estão extremamente desconfortáveis com os países emergentes na seguinte ordem: Brasil, México, África do Sul, Rússia e Turquia”. E continua: “Se o risco político seguir aumentando no Brasil, os investidores vão alocar o dinheiro nos mercados que estão conseguindo controlar melhor a pandemia do coronavírus e cujos governos estão com políticas (fiscal e monetária) de maior suporte à recuperação”. Simples assim. Tenho chamado a\tenção aqui de o quão é arisco o capital.

Ao longo deste ano (e possivelmente do próximo), a corrida dos investidores para saírem do país continuará grande e, basicamente, não haverá entrada de recursos novos estrangeiros para investimentos no país.
Situação que tende a piorar quando esses investidores perceberem que o Brasil (se o tal de Pró Brasil for implementado) estará mergulhando direto numa crise de grandes proporções. Aí, neste caso, a tendência é basicamente zerar a grana que eles ainda têm por aqui. E sem ela, este país vai para as cucuias. 

Não teremos grana sequer para rolar o nosso déficit que já é alto e crescerá ainda mais com o aumento dos gastos públicos. Os trilhões sonhados pelo ministro Guedes via privatização é sonho de uma tarde de verão. Não vão acontecer. Com essa crise mundial brutal, os ativos irão se desvalorizar muito. Se venderem agora, será na “bacia das almas”. Um desserviço para a Nação que fica sem seu patrimônio e ainda assim não resolve o problema da rolagem da sua dívida interna que anda hoje na casa de 4,5 trilhões de reais. 

A forma como o Coronavírus está sendo gerenciado no Brasil pode estar levando o vírus a sair do controle. E se acontecer, será mais um motivo para a fuga de capitais já que o país vai ter voltar a fechar por outro bom tempo. E é isso que o presidente da república não entende (ou faz de conta que não, apostando no quanto pior melhor para tentar o seu sonho dourado que é todos sabem qual).

O país já é considerado (junto com a América Latina) o epicentro da pandemia. Só estamos atrás dos Estados Unidos em número de infectados. Por enquanto no número de óbitos Itália, Espanha e Estados Unidos nos superam nesta lúgubre conta. Mas até o final de maio, seremos “vice-campeões” mundiais em mortes pela Covid-19.

O que deixa os investidores ainda mais ouriçados. Na verdade, a percepção deles é que o Brasil entrou na pandemia com uma situação fiscal pior que a dos demais emergentes e, com as barbeiragens cometidas pelo governo federal na condução da crise, essa percepção só aumenta. Some-se a isso, o temor (perfeitamente justificado) de que mais à frente, o governo federal pode promover uma “bomba fiscal”, ou não conseguir administrar a crise institucional que só aumenta. Você investiria seu dinheiro numa “empresa” com esse perfil?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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