colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Vinte e um mil óbitos

23/05/2020 - 08:13

ACESSIBILIDADE


Chegamos ao número trágico de mais de 21 mil óbitos. Apenas nos últimos 15 dias o país viu dobrar o número de vitimas da Covid-19. Foram 10 mil vidas perdidas na luta contra o vírus. Neste breve período, Estados que pouco se ouve falar no contexto da crise epidemiológica como Roraima e Tocantins, viram o número de óbitos crescer, respectivamente, 390% e 366%. 

Mas foi no Pará que o Coronavírus fez o maior estrago nestes 15 dias fatídicos. O Estado teve o maior índice de crescimento de mortes pelo vírus entre todas as unidades da federação: 400%.E como tem sido a nossa triste realidade nessa epidemia não se dispõe de dados fidedignos que ajudem a orientar ao país sobre o rumo adequado e quais medidas seriam as mais eficazes do ponto de vista epidemiológico, da economia e da população.

Governo federal e governos estaduais tiveram tempo suficiente para se preparem minimamente para a epidemia. No mínimo 60 dias antes dela eclodir de vez em nosso país. Mas não, o ministério da saúde ficou (e continua) de mãos atadas pelo comportamento negacionista e inescrupuloso do presidente da república em relação à pandemia, o ministro da economia, um bom quadro, teve o despautério de afirmar em fevereiro que a solução para a epidemia era votar as reformas tributária e administrativa e alguma coisa mais da trabalhista...

Os Estados, quebrados, ineficientes, em geral nas mãos de políticos desqualificados para gerir sequer a cozinha de suas casas, e outros tantos sabidamente sabidos no trato do dinheiro público, ficaram – como sempre – à espera de grana federal para realizarem licitações de undécima hora, sem necessidade de seguir os trâmites – frouxos – que poderiam dar algum freio à festança que está acontecendo nos bastidores da aquisição de materiais e equipamentos de saúde para seus hospitais sucateados onde morrem mais de meio milhão de brasileiros todos os anos por falta de assistência.

Se apertar, as autoridades envolvidas na solução dos problemas causados pela epidemia, exceto o pessoal da ponta, médicos, enfermeiros, auxiliares, psicólogos e toda uma plêiade de heróis que estão enfrentando – em alguns casos – de peito aberto a Covid-19, os demais quase todos, ou são incapazes, como é o caso da grande maioria dos milhares de secretários/as de saúde de uma miríade de prefeituras (e até um bom número dos secretários estaduais), ou ocupam “cargos de confiança” na maior parte sem que nada ou pouco saibam sobre as nuances de suas posições. Restam alguns poucos, abnegados e competentes. Mas estes não estão na linha de frente das decisões médico-epidemiológicas. 

Na economia, a coisa não anda melhor. O ministro Guedes depois de muita, mas muita relutância mesmo (chegou a se “exilar” em casa, no Rio de Janeiro, por uns bons dias) encaminhou algumas alternativas de soluções que – definitivamente – não chegaram até o micro, pequeno e médio empresário que estão em vias de falirem por que os bancos não aprovam os seus cadastros. Parece piada, num país numa crise colossal que já passa de 6 anos, acontece uma epidemia e os bancos – com grana em caixa liberada pelo governo – não emprestam por que a empresa, mesmo com o nome limpo e apresentando garantias reais, não atende a determinados requisito da casa que são exigidos em tempos normais.

Argumentam que para fazer isso, o governo teria – mas esqueceu – de aprovar alguma medida legal para ser o garantidor dos empréstimos aos empresários. E nesse imbróglio, enquanto não se resolve o problema, empresas estão falindo e outras milhares a caminho disso.Dias atrás, elogiei as medidas tomadas pelo ministério da economia, não imaginava, no entanto, que seus burocratas, bancos e banco central fossem tão insensíveis como estão sendo nessa questão da liberação de recursos para as empresas (ou seria uma forma irresponsável de forçar os governadores a “abrir tudo” como quer o presidente da república, mesmo com o aumento exponencial de óbitos que fatalmente irá acontecer)? 

Não basta os milhões de pessoas que estão sendo forçadas a irem para a porta da caixa econômica correndo todos os riscos para receber o auxilio emergencial? Vamos continuar avançando às cegas rumo ao desconhecido nesta epidemia e pelo que se vê, depois dela, também.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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