colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O legado será pesado

22/05/2020 - 07:45
Atualização: 22/05/2020 - 07:49

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A crise de 1929 que vem sendo muito citada nos dias atuais nos legou o ensinamento do grande economista inglês John Maynard Keynes de que nessas crises de grande porte, os governos devem intervir de imediato para impedi-la, e não esperar e deixar a economia ruir. 

Em 2008, quando os bancos, os preços das commodities e as bolsas começaram a entrar em colapso, nos deparamos com todos os contornos de outra depressão profunda, que os governos conseguiram brecar em função das ideias Keynesianas (no Brasil, o infausto Lula afirmou que aquela crise era só uma “marolinha”) (sic!).

A crise do Coronavírus que o mundo agora enfrenta adiciona um ingrediente a mais ao problema. Deste feita, não se trata apenas de um choque na oferta, ou na demanda, agora é oferta e demanda que foram atingidas diretamente pela pandemia ao exigir como saída única a decretação de formas diversas de recolhimento social que pode alcançar até o lockdown, para os sistemas de saúde dar conta de atender a população. O presidente atual afirmou para a posteridade que a pandemia não passaria de uma “gripezinha”.

No começo de junho, vamos completar 4 meses de convivência forçada com a Covid-19 (na China e na Europa, 5 meses). E a bateção de cabeça das autoridades brasileiras só aumenta a preocupação. Tivemos tempo para nos preparar para a pandemia e o perdemos com discussões políticas inócuas ou medidas econômicas e sanitárias claramente insatisfatórias do ponto de vista das empresas, das pessoas e da saúde pública. 

Fica a cada dia mais claro que os custos da Covid-19 em termos de recessão (e até de uma possível depressão somada à deflação), de desemprego e de destruição do capital, serão ainda maiores do que imaginávamos há apenas 30 dias.  Os índices de retrocesso do PIB brasileiro que já andaram na faixa de -3% (FMI) em março, agora projetam até -14,4% (FGV). 

Que somado aos números negativos da economia mundial (oscilam entre -3% a -5%), nos remetem diretamente ao pior dos mundos em 2021 (embora alguns sonhadores falem em recuperação – que não virá - no segundo semestre deste ano). A recuperação mundial pós-pandemia está ameaçada. A globalização levou a enorme interdependência da produção, reduziu custos, aumentou a produtividade mundial e o crescimento mundial.

O Brasil ficou de fora por conta da nefasta política Sul-Sul do petismo, pela enorme crise legada dos vermelhos e, especialmente por continuar sendo um dos países mais fechados do mundo. A pandemia revelou as fragilidades desse modelo. A crise está alimentando sentimentos nacionalistas e a desconfiança entre parceiros que podem – no limite - levar a um provável retrocesso nos fluxos de comércio internacional e de capitais, direcionando o mundo à armadilha protecionista que levou a grande depressão dos anos 1930 a se agravar ainda mais.

Desde o início dessa crise, governos de todo mundo já gastaram estimativamente, segundo o FMI, cerca de 15 trilhões de dólares para combater os efeitos diretos da pandemia. Vão sair no final altamente endividados; Banco Centrais compraram 6 trilhões de dólares em ativos financeiros para os quais não havia demanda no mercado. Podem estar criando um mercado de títulos zumbis; Países emergentes, vários deles, estão fadados a dar calote em suas dívidas externas (não é o caso do Brasil, com suas reservas bilionárias em dólar); e todos vão aumentar as suas cargas tributárias para pagar a conta da epidemia (inclusive o Brasil). A conta será distribuída de modo que até nossos netos ainda estarão a pagá-la.

O legado da Covid-19 será muito pesado. E não será resolvido com discussões estéreis e politicamente incorretas. Não há saídas fáceis para o problema. Não sairemos melhores como sonháticos pensam, também não sairemos piores. O mundo vai encontrar saídas – que não são de curto prazo como negacionistas e certas autoridades querem fazer crer. E o Brasil, que não passa de um frágil e minúsculo elo da enorme corrente dos negócios globais, poderá (ou não) se aproveitar do momento de reconstrução mundial para - de uma vez por todas – encontrar o caminho de médio e longo prazo que nos levará ao desenvolvimento sustentado.

Certamente para isso, ou esse governo muda o diapasão, ou será preciso arranjar outro maestro para tocar a sinfonia do crescimento com paz social.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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