colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Desgoverno II

19/05/2020 - 08:48

ACESSIBILIDADE


Analistas de todos os naipes e jornalistas gostam de usar uma figura retórica que remete a um doente que de repente, depois de anos em coma, acordasse e se surpreendesse com o “novo real” deste país macunaímico.
O momento atual nos mostra o quadro real do que não deveria estar acontecendo com o país num momento – que não canso de alertar – gravíssimo que vai afetar negativa e diretamente o seu desempenho durante a próxima década, nos levando a somar duas décadas perdidas. E isso, definitivamente, não é pouco.

A pandemia nos pegou de calças curtas na área da saúde com um SUS completamente destroçado por anos e anos de abandono, não prioridade, desvios mil, corrupção generalizada, má remuneração, baixa qualificação técnica de parte significativa do quadro. Mas ainda assim, é ele que mal e mal vem assegurando, sabe-se lá como, o atendimento da população infectada pelo Coronavírus.

Alguém que está dentro do sistema e nos hospitais, deveria escrever sobre isso. Certamente, todos se surpreenderiam com o que deve estar acontecendo lá dentro. E com o trabalho heroico de pessoas anônimas para manter o mostrengo do SUS funcionando. Mas como desgraça pouco é bobagem, o Estado brasileiro, tomado por castas políticas, judiciária e do próprio executivo, insensíveis como sempre a dor alheia, segue na sua batida histórica de pouco ou nada fazer para não mexer com os interesses cruzados deles mesmos. São incapazes sequer de brecar reajustes salariais para eles mesmos em plena pandemia!

Tribunais concedem aumento, outros licenças-prêmio indenizáveis retroativas há mais de 10 anos para eles mesmos. Servidores públicos conseguem travar no Congresso medida que sustaria aumentos salariais nos próximos dois anos, pagamentos devidos às empresas são sustados de forma arbitrária na justiça, levando unidades produtivas sãs a entrar no rol das ameaçadas de quebra, o Senado ameaça votar medidas para o mercado de crédito que certamente – se aprovadas – fará tanto mal ao país e à economia quanto o fez as medidas petistas para o setor elétrico que até há pouco todos vinham pagando.

Enquanto isso, milhões desempregam-se, empresas quebram aos borbotões por que a “ajuda” do governo não chega à ponta, os bancos estão “empoçando” o dinheiro (e ninguém faz nada) e não abrem mão para que Fintechs participem do pool do crédito ao empresariado nacional. A incompetência na gestão destas crises (sanitária, econômica e política) não para de nos surpreender. Até parece que Governos, Congresso e Justiça brigam entre si para ver quem vai levar o troféu abacaxi das piores medidas.

Temos logo à frente, que enfrentar a pior crise econômica que já se desenhou em nossos quadrantes, e nada, rigorosamente nada, vem sendo feito para preparar o país para o Tsunami econômico que já é visto da proa do navio. Quando muito, vemos o ministro da economia que seria responsável pela condução das soluções econômicas, nos contar lorotas sobre privatizações que arrecadariam 1 trilhão de reais. Ele deveria explicar como os bens postos à disposição para leilão, em plena crise e com suas cotações no chão iriam gerar aquela fortuna. Piada de mau gosto, em momento totalmente inapropriado. 

O Estado brasileiro precisa ser urgentemente reformulado. Por dentro e por fora. Não dá mais para a sociedade sustentar essa anomalia. Enquanto 214 milhões de pessoas penam, 1 milhão continua, como se nada estivesse acontecendo, a se refastelar numa farra nauseabunda que tem que ser parada.

Atônita e aturdida a sociedade brasileira assiste ao triste espetáculo promovido por aqueles que deveriam estar liderando as saídas para este monumental problema, mas, ao invés disso, despudoradamente, brigam para impingir ao país soluções do tipo abre tudo e quem morrer, morreu. Ou continuam a roubar do brasileiro os recursos que já deveriam ter feito deste país, uma Nação desenvolvida há muito tempo.

Até quando?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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