colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A entrada do Centrão e a saída de Guedes

15/05/2020 - 09:34

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O papel do Centrão na vida nacional tem sido deste os tempos do governo Sarney quando o então (já falecido) deputado por São Paulo, e um dos “líderes” desse complô contra o Brasil definiu sem querer, o que viria a ser a marca registrada do grupo: “É dando que se recebe” numa farsesca versão corrupta da frase de São Francisco de Assis.

Durante o primeiro ano do governo Bolsonaro, o Centrão se aliou ao notório presidente da Câmara Federal – ele também membro do Centrão tal como o Democratas, seu partido – para barrar todas as pautas caras ao Bolsonarismo. As certas e as várias erradas (que foram a grande maioria).

Foi assim que eles, de um lado, articulados sub repticiamente, armaram a arapuca para pegar o “pato”. Neste caso o presidente da República. Enquanto do outro lado, o “pato” ao longo de um ano foi colecionando erros em cima de erros. Sem projetos relevantes aprovados e isolado politicamente, o “pato” viu crescer perigosamente a chance de ser defenestrado do cargo.

Até porque o seu destino político estava nas mãos de seu “inimigo” Rodrigo Maia e de um Supremo que claramente cansou das suas estripulias.  A saída que o “pato” enxergou foi cair nos braços do Centrão, que de imediato, como é seu feitio, deixou seu antigo aliado, o presidente da Câmara Federal (que eles deram corda para se pavonear de “primeiro-ministro”) a ver navios e embarcou alegremente na canoa que o “pato” (que eles vinham cevando há um ano) lhes oferecia de mão beijada. Do ponto de vista do Centrão, uma jogada de mestre. 

Do ponto de vista político, esse é um arranjo que dá sobrevida a Bolsonaro, até que o resto do seu capital político vire pó - durante aquela que prometer vir a ser a maior crise econômica que este país infelizmente irá vivenciar - erodindo o apoio que ele ainda tem de cerca de 30% da população. Se nada mudar, e ele não muda, segue célere para o ocaso político. 

Quando então Centrão o abandonará, mas não antes de eleger o próximo presidente da casa, o “dono da chave” da abertura do impeachment do presidente, o que dará ao grupo ainda mais força, poder e acesso aos cofres da Nação brasileira. Teremos outra tempestade perfeita em cima da que já estamos vivendo com o país em plena epidemia, numa enorme crise política e aguardando a débàcle – que virá – da economia nacional no pós Covid-19. 

A Nação precisando juntar forças para se reerguer e os assaltantes dos cofres públicos fazendo a limpa na “rapa do tacho” o que vai obstaculizar os caminhos de saída da crise.  E aí entra a variável Paulo Guedes, o único ministro relevante que ainda permanece no governo. O cara é milionário, competente e bem intencionado. Suas propostas de reforma do Estado e da economia nacional foram, todas, barradas pelo Centrão e pela oposição e até pela ação deletéria do presidente da república em defesa justamente dos grupos que sempre se beneficiaram desse Estado mostrengo, injusto e desigual para com a população.

Assim foi com a reforma da previdência que de uma montanha de expectativas, pariu um rato disfuncional que terá que ser muito em breve consertado. As demais sequer valem a pena falar, foram vitórias de Pirro que a crise da Covid-19 tornou irrelevantes.

A chegada do gastador Centrão e mais o sonho dos ministros ex-militares do governo – que nada entendem de economia – em reviver, sem grana para isso e sem investidores estrangeiros que tão cedo põem os pés no país – megalômanos ”projetos de desenvolvimento” (sic!) põe a sua permanência na frigideira. Será assado em banho-maria. 

E com o presidente da República claramente interessado em salvar a pele via acordo político com o que há de pior no Congresso e, em obras para apresentar na campanha ré-eleitoral, não importa o preço que o país venha a pagar por isso, a vida de Guedes no governo está por um fio.

Seu discurso reformista e de austeridade nos gastos públicos não cabe nesse pacote acima. Daí ou ele entra na dança da irresponsabilidade que veremos logo mais a frente ou será “saído” pela conjuntura político-eleitoral que se desenha.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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