colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Números cada vez piores

12/05/2020 - 08:24

ACESSIBILIDADE


Nós somos quase 5% da população mundial, mas ontem, 11, somávamos 16% dos novos óbitos e 11% dos novos contaminados no mundo. O que os governadores vinham tentando fazer, infelizmente, a cerrada campanha do presidente da República a favor da morte rápida de milhares de brasileiros - que poderiam estar vivos - os impediu. 

Nossa curva epidêmica agora sobe quase verticalmente, somos o país com a velocidade mais rápida na transmissão da doença. A cada 2,3 dias dobra o número de infectados. E se fizermos uma conta simples, chegaremos a um número macabro. Terrivelmente macabro. Ontem, já eram 11.519 óbitos. Não vou falar de infectados porque este número é uma piada. De mau gosto. Que o Ministério da Saúde não faz nenhuma questão de consertar para não desagradar o chefe.

O Imperial College de Londres informou que no Brasil, a transmissão da Covid-19 esta semana anda na casa de 1,49. Ou seja, cada infectado transmite a doença para uma e meia pessoa. Insuficiente, portanto, para o controle da epidemia (deveria ser de pelo menos 1). A taxa de letalidade é de 6,8%. Em cada 100 pessoas que são acometidas oficialmente (grifo nosso) praticamente 7 vão a óbito.

No dia 23 de abril, o número de óbitos no país tinha alcançado 2.484. Hoje esse número chegou a 11.343 mortos. Um crescimento de 457% de lá para cá no total de pessoas que viram suas vidas interrompidas de forma abrupta e não esperada. 

E ainda não atingimos o pico da epidemia que, segundo a consultoria americana Kearney que trabalha na avaliação de cenários há mais de 80 anos em cerca de 40 países, deve ocorrer entre 10 de maio a 5 de julho de acordo com cada região do país.

Essa mesma consultoria estima que na melhor das expectativas o Brasil chegue a 28 mil vítimas do novo Coronavírus até 20 de dezembro. Mas aponta para números, a nosso ver, mais prováveis de 78 mil óbitos até aquela data – num cenário intermediário, segundo ela – ou mesmo de até 295 mil mortos em seu pior quadro projetivo. Número equivalente, no caso de Alagoas, a toda a população de Arapiraca.

Os estados que sofrem com maior falta de leitos, principalmente na rede pública, estão nas Regiões Norte e Nordeste, como Amazonas, Pará, Amapá, Ceará e Pernambuco. O colapso na rede de atendimento, porém, também se aproxima das redes de Acre, Rondônia, Roraima, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

A mesmo consultoria Kearney, informa um número para lá de inquietante: estima que “haverá falta de, ao menos 2,5 mil leitos de UTI no pico das contaminações, mas esse número pode chegar à aproximadamente 24 mil leitos em situação mais crítica”. O que seria a tragédia em cima da tragédia.

Se essa pressão insana pela flexibilização das metidas de restrição social continuar e os governadores e prefeitos embarcarem nessa onda por medo de perder votos nas eleições, o que eles estarão fazendo é perder mais milhares de vidas que poderiam estar conosco e, aí sim, certamente serão bem cobrados mais à frente.

Basta a inação do governo federal cujo ministério ganhou a cara de uma figura esquisita meio que saída de algum filme de terror que, coincidentemente desde sua posse, parece estar sempre um passo atrás dos fatos. Se o governo continuar retendo verbas para os estados e municípios, não haverá como expandir urgentemente a estrutura deficitária de saúde que aí está. 

E aí é esperar para ver qual a desculpa que os negacionistas terão para as quase 300 mil mortes projetadas...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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