colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

'200 milhões de trouxas'

11/05/2020 - 07:45

ACESSIBILIDADE


“Em vez de ter 200 milhões de trouxas sendo explorados por 6 bancos...” A frase pronunciada no sábado, 9, chama a atenção pelo alto teor bombástico que ela encerra, mas, sobretudo, porque não foi cometida por um qualquer, foi o próprio ministro da Economia deste país, economista renomado, ex-banqueiro e milionário que a pronunciou em videoconferência patrocinada por um...banco, o ITAÚ BBA.

Ele estava se referindo em claro e bom som, ao sexteto que domina os serviços bancários no país, Bradesco, Itaú-Unibanco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica (os outros 7 bancos que seguem na lista dos 12 maiores, somados, não alcançam os ativos do último colocado do sexteto).

Falar dos abusos (palavra muito leve para o que as casas bancárias praticam contra seus clientes rotineiramente) é muito pouco para se entender o que ocorre no dia a dia dos negócios bancários em geral. 

É dessa “rotina” de cobranças indevidas, juros abusivos, taxas ilegais, cartões de crédito não solicitados, cheque especial com juros estratosféricos, abuso do direito de cobrar, juros compostos em empréstimos, operações, vendas “casadas” e vai por aí, que estamos falando. 

Quem é correntista sabe bem do que estamos tratando. E olha que não falamos do gerenciamento dos “investimentos” realizados pelos clientes em produtos oferecidos por eles. Custa acreditar que pessoas com boa dose de informações e capacidade analítica suficiente para perceber os engodos praticados com o seu dinheiro, se deixam enganar tão facilmente. 

Se houvesse espaço iria detalhar algumas dessas falcatruas. Mas vamos ficar em uma apenas. Os títulos de capitalização. Pois bem, ao investir você é informado que eles rendem mais que a poupança (cujo rendimento é traço atualmente). Rende menos. 

Ao comprar o título, parte do seu dinheiro vai custear os prêmios dos sorteios, parte é para pagar a taxa do banco e só o restante do dinheiro vai ter uma reles rentabilidade (negativa por sinal). Seu dinheiro serve apenas para os bancos utilizá-lo de graça e emprestar aos incautos a juros estratosféricos mesmo quando nossa inflação – como agora – é quase zero. 

Esse é só um exemplo das pegadinhas do dia a dia. Mas que rendem bilhões de lucros a cada trimestre.
Aliás, por falar em bilhões, o Itaú anunciou aos quatro ventos a aplicação de 1 bilhão de reais no combate ao Coronavírus. Como até agora não se ouviu falar mais nada a esse respeito, certamente a comissão de notáveis que o banco nomeou deve estar ainda ajustando os egos inflados dos seus membros para “depois” ver o que fazer com a grana. 

Em tempo: apesar de ter sido a maior doação no Brasil, ela representou apenas 3,5% do lucro do banco em 2019.
Mas como o melhor sempre fica para o fim e, afinal, como ninguém é de ferro, os bancos que pagam menos impostos que as pequenas empresas (acreditem, é verdade) no dia 27 de abril passado - em plena crise e na moita – ganharam um “presente” da Secretaria da Receita Federa subordinada ao ministro Guedes: a instrução normativa nº 1942 daquele órgão, baixou de 20% para 15% a alíquota do CSLL (contribuição social sobre o lucro líquido) dos bancos. 

Sabem os senhores o tamanho do “presente”: 5,4 bilhões de reais que eles vão deixar de pagar, já que lucraram em 2019 “apenas” 108 bilhões de reais. Inaceitável em qualquer época, ainda mais num momento que o país conta os centavos para bancar os custos com o Coronavírus. Pior fica quando se sabe que o governo federal liberou vários mecanismos que ajudaram os bancos a aumentar sua disponibilidade financeira, no intuito de ajudar as empresas neste momento de crise. 

No momento, nem 1% desses recursos chegou a quem precisa. O ministro Guedes afirmou que eles estavam “empoçando” o dinheiro. Mas nada fez para mudar. Não é “empoçamento” o que eles estão praticando. Estão é ganhando dinheiro com aplicações no mercado. E desempregando milhões de pessoas por sua atitude antipatriótica. 

Quem se beneficiou com isso? Certamente muita gente ganhou e muito. Mas não se pode contar com o Congresso para fiscalizar, pois lá os bancos reinam. E não é possível nesse espaço detalhar como funciona. Somente mesmo num livro e dos grandes. Existem vários tratando do tema. O papa Francisco definiu, certa vez, que os bancos são tigres famintos, que presos, reivindicam sua liberação. 

Uma vez soltos, devoram tudo. É daí que se incrementa a desigualdade. E a desigualdade é o mais mata pessoas em todo o mundo.  E aí vai se fazer alguma coisa?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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